Folha de S. Paulo


Paris metálica de Germaine Krull está em fotos dos anos 1920

Nunca foram tão belos guindastes, ancoradouros, trilhos e pilhas de ferro –essas às vezes num formato famoso, como o da torre Eiffel, em Paris. Germaine Krull via nas estruturas metálicas da capital francesa e dos portos de Amsterdã os alicerces da modernidade, esqueletos elétricos das cidades do futuro.

Vistas pela primeira vez no país, as 64 fotografias de sua série "Métal", criada ao longo dos anos 1920, estão juntas agora no Museu Lasar Segall, um ano depois de serem mostradas numa grande retrospectiva dedicada à artista no parisiense Jeu de Paume.

Krull, morta aos 88, em 1985, foi um dos grandes nomes da vanguarda fotográfica europeia no século 20, mas também uma pioneira do fotojornalismo –sua obsessão pelo maior marco arquitetônico de Paris, aliás, rendeu algumas de suas reportagens na "Vu", revista da era de ouro dos ensaios fotográficos.

Seu olhar parece viciado desde sempre em linhas e contornos dramáticos, talvez aguçado pelos desvios de sua história de vida vertiginosa.

Nascida na Polônia, filha de pais alemães, Krull estudou em Munique, fez parte da Revolução Bolchevique e acabou presa em Moscou. Saída do célebre presídio de Lubianca, foi parar em Bancoc, onde comandou um hotel de luxo. Voltou a Paris e se firmou como um nome forte da arte.

Lá, ela brilhou primeiro como fotógrafa de moda. Lançava um olhar singular ao corpo feminino, que depois revisitou numa série de nus, além de saber enquadrar silhuetas e manequins em ângulos inusitados, extasiantes.

Não espanta, aliás, seu histórico com a Rússia, onde artistas como Aleksandr Ródtchenko já vinham revolucionando a linguagem fotográfica, na tentativa de forjar uma nova estética para uma nova sociedade. Nesse espírito, Krull parecia contaminada pela ideia de modernidade.

'MEUS FERROS'

Sua visão ao mesmo tempo estoica e robusta de cidades em construção, do movimento dos portos e do monumento antes visto como escândalo que é a torre Eiffel dá um verniz elegante ao que não passaria de montanhas de metal –ela chamava essa série de "meus ferros".

"Não é uma apologia ao ferro. Isso é de uma modernidade total, anterior à Bauhaus", diz Jorge Schwartz, diretor do Lasar Segall, lembrando a famosa escola de design alemã. "O olhar dela é marcado pelas diagonais, pelo detalhe. Ela estetiza as máquinas, as engrenagens. Sem isso, não era possível haver progresso."

Krull, no caso, acreditava numa evolução acelerada. Depois de fotografar toda a campanha publicitária de um dos carros da Peugeot em 1929, ela pediu um modelo esportivo no lugar do cachê. E nunca mais saiu da estrada.

GERMAINE KRULL
QUANDO de qua. a seg., das 11h às 19h; até 30/5
ONDE Museu Lasar Segall, r. Berta, 111, tel. (11) 2159-0400
QUANTO grátis


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