Folha de S. Paulo


'Liberdade, Liberdade' abordará discriminação a homossexuais

No Brasil colônia, a homossexualidade era chamada de sodomia e classificada como crime de lesa-majestade, punido na fogueira.

É nessa conjuntura histórica que se desenvolverá o conflito interno de André, personagem gay de Caio Blat em "Liberdade, Liberdade", novela das 23h da Globo que estreou na segunda (11) marcando 27,2 pontos de média no Ibope da Grande SP (cada ponto equivale a 69 mil casas), melhor estreia do horário dos últimos três anos.

O folhetim de Mario Teixeira se passa nos séculos 18 e 19 e conta a história fictícia de Joaquina (Andreia Horta), filha do inconfidente Tiradentes (Thiago Lacerda).

A trama tem início com a vinda da família real ao Brasil. A escolha de uma protagonista mulher para retratar um contexto ainda bastante machista é parte de uma decisão maior do autor, a de dar visibilidade –e complexidade– a personagens menos óbvios em produções históricas.

Bertoleza (Sheron Menezzes) é uma negra alforriada de hábitos refinados incomuns para o Brasil colônia. A cafetina Virgínia (Lília Cabral) faz parte do conluio independentista. Já André descobre sua orientação sexual em uma sociedade cuja punição para a homossexualidade é draconiana.

"Depois dos judeus, que representavam cerca de 80% das vítimas da Inquisição, os sodomitas foram o grupo mais perseguido e torturado da época", diz Luiz Mott, antropólogo da Universidade Federal da Bahia.

De acordo com o professor aposentado, os acusados de práticas homossexuais eram presos e enviados a Lisboa, onde ocorria o julgamento.

Caio Blat conta que André e Joaquina, de quem é irmão de criação, compartilham dos mesmos ideais. Seu personagem é "extremamente sensível e não se adapta ao estereótipo de cavalheiro" vigente no período.

Mas nem só de drama vive o rapaz. Mesmo "sem encarnar trejeitos", André deve fazer o público se divertir. Ainda em Portugal, ele reluta com a ideia de se mudar para a colônia e prefere se entregar a Napoleão, que considera "chiquérrimo".

"A novela traz tramas e figuras complexas. Os negros não são retratados como uma marca, eles têm sua individualidade", afirma Mateus Solano. Para o ator, que fará Rubião, o delator de Tiradentes, o folhetim mostrará "que a corrupção está no berço da nossa história".

Caio Blat diz acreditar que a produção pode levar o público a pensar na "formação política do Brasil, que sempre foi dominado por uma oligarquia –a mesma que ocupa o atual Congresso".


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