Folha de S. Paulo


Mostra no MAC revê a obra do vanguardista latino Oswaldo Vigas

Um artista difícil de classificar, Oswaldo Vigas ocupa um terreno incerto entre a figuração e a abstração. Suas telas nunca perdem o vínculo com formas reconhecíveis, em especial do corpo humano, mesmo que fragmentado ou misturado a visões de feras fantásticas.

Nesse sentido, a obra desse pintor e escultor venezuelano, agora alvo de uma retrospectiva no Museu de Arte Contemporânea da USP, nunca se enquadrou no cânone das vanguardas construtivas.

Morto aos 87, há dois anos, Vigas flertou com a geometrização que varreu a arte do século 20 desde o cubismo, mas nunca se entregou de vez à sua ortodoxia, mantendo sempre à mão um arsenal de seres estranhos que às vezes se perdem entre quadrados e retângulos, mas estão sempre ali, respirando no horizonte.

Divulgação
Obra do artista venezuelano Oswaldo Vigas, agora em mostra no MAC-USP. Foto Divulgacao
'Formas III', de 1955, pintura de Oswaldo Vigas agora no MAC

Quando jovem, Vigas viu em Caracas os trabalhos do surrealista cubano Wilfredo Lam, marcado por um sentido particular de mitologia. Depois, nos anos 1950, já vivendo em Paris, conheceu Picasso e passou a experimentar com um geometrismo próprio.

"Eles eram todos parte de uma mesma cena", diz a holandesa Katja Weitering, que organiza a mostra. "Vigas desenvolveu figuras arquetípicas, ancestrais. Mas foi o primeiro a usar o passado pré-hispânico como inspiração."

Ou seja, estendendo uma ponte entre Lam e Picasso, dois pilares de seu universo estético, a obra de Vigas revê as cores e formas da arte primitiva de seu país para construir as bases do que mais tarde seria entendido como arte latino-americana, uma tentativa de juntar e definir as vanguardas de toda essa região.

Nos últimos anos, aliás, a tal arte latina virou uma espécie de moda no cenário global. E o Brasil, sempre mais ligado à Europa e aos Estados Unidos, vem aos poucos estreitando laços com seus vizinhos.

Enquanto mestres venezuelanos, como Alejandro Otero e Armando Reverón, já foram vistos no país e a edição da Bienal de São Paulo organizada há quatro anos por Luis Pérez-Oramas também jogou luz sobre uma série de autores latinos, Vigas continuou desconhecido no cenário nacional.

Na opinião de Weitering, seu relativo anonimato tem a ver com o fato de o artista ter deixado Paris e voltado à terra natal. Outra questão, ainda de acordo com a curadora, é a falta de linearidade em sua obra, que oscila entre momentos de maior e menor abstração, retomando experimentos do passado sem medo que isso pareça um retrocesso.

"É interessante como ele passou a pintar de um jeito muito mais livre", diz Weitering. "Ele marca esse momento em que as ideias mais conservadoras vão sendo aposentadas e tudo começa a se mover numa velocidade maior."

OSWALDO VIGAS
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; até 3/7
ONDE MAC-USP, av. Pedro Álvares Cabral, 1.301, tel. 2648-0254
QUANTO grátis


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