Folha de S. Paulo


Morre aos 86 o escritor húngaro Imre Kertész, Nobel de Literatura em 2002

Georgios Kefalas - 10.mai.2007/Associated Press
O escritor húngaro Imre Kertész, vencedor do Nobel de Literatura em 2002, em imagem de 2007
O escritor húngaro Imre Kertész, vencedor do Nobel de Literatura em 2002, em imagem de 2007

O escritor húngaro Imre Kertész, vencedor do Nobel de Literatura em 2002, morreu nesta quinta-feira (31), aos 86 anos.

Kertész morreu durante a madrugada, em sua casa em Budapeste, após uma longa batalha contra uma doença, declarou seu editor, Krisztian Nyary. A causa da morte não foi divulgada.

Nascido em 9 de novembro de 1929, Kertész foi o primeiro autor em língua húngara a vencer o Nobel.

"Kertész foi um dos escritores húngaros mais influentes do século 20, não apenas por sua obra (...) mas também por seu pensamento e sua visão de mundo. Seguirá sendo uma grande influência na literatura nos próximos anos", disse Nyary.

Judeu, Kertész sobreviveu aos campos de concentração nazistas de Auschwitz-Birkenau (Polônia) e Buchenwald (Alemanha), para onde foi aos 14 anos, durante a Segunda Guerra Mundial.

Foi essa experiência que inspirou seu livro mais famoso, "Sem Destino" (1975), publicado no Brasil pela Planeta.

Segundo o júri do Nobel, essa obra "traça a frágil experiência do indivíduo contra a bárbara arbitrariedade da história, e defende o pensamento individual contra a submissão ao poder político".

A Academia Sueca, que concede o prêmio, também destacou que Kertész se diferenciava dos demais escritores do Holocausto por não retratar os campos de concentração com ultraje.

"O romance utiliza o dispositivo alienante de banalizar completamente a realidade dos campos, como [fosse] uma existência cotidiana feito qualquer outra", escreveu um júri à época do prêmio.

Depois da Segunda Guerra, Kertész voltou para seu país, dessa vez sob domínio soviético –e começou a traduzir Nietzsche, Freud e Wittgenstein, entre outros autores. Influenciado pelo existencialismo francês, tinha como tema o destino do homem em ambientes totalitários.

Antes de ganhar o Nobel, enfrentou décadas de anonimato, até por ser visto com desconfiança pelo regime comunista húngaro. O autor chegou a dizer que "Sem Destino" era sobre o regime de Janos Kadar, ditador que dominou o país de 1956 a 1988.

"Estar muito perto da morte também é uma forma de felicidade. Apenas sobreviver já é a maior liberdade de todas", afirmou em entrevista, sobre os campos de concentração.

Há uma série de livros de Imre Kertész publicados no Brasil, como "Kadish - Por Uma Criança Não Nascida" (Imago), "A Língua Exilada" (Companhia das Letras) e "História Policial" (Tordesilhas), entre outros.


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