Folha de S. Paulo


Achei 'Space Oddity' uma manobra barata, diz antigo produtor de Bowie

música

O produtor americano que fez mais de dez discos com David Bowie, contou na quinta-feira (17) que, ao conhecer o jovem músico britânico nos anos 1960, primeiro ficou fascinado com seus olhos de cores diferentes. Depois, decepcionadíssimo com "Space Oddity", canção então inédita e hoje um clássico do rock.

Tony Visconti, responsável pela produção dos quatro últimos álbuns de estúdio de Bowie, morto em janeiro, aos 69, falou em palestra no festival SXSW (South By Southwest), que acontece em Austin, no Texas, até domingo (20).

"Na época, eu era um jovem hippie e idealista. Quando ouvi 'Space Oddity', me revoltei. Disse: 'Que manobra barata, David! É tipo uma música de comercial, com astronautas, luas! Esse Major Tom soa como flamenco'", contou Visconti, rindo.

"Não percebi que era a música revelação dele. No começo, não queria fazer. Realmente odiei. E ele lá me ouvindo, quieto, de cabeça baixa."

Visconti acabou recomendando um amigo para produzir a música e ficou animado com a gravação final. "Mas achei que nunca mais veria o Bowie. Só que ele voltou e disse: 'Pronto, agora que tiramos isso do caminho, vamos voltar ao álbum?'"

O resultado foi "David Bowie" (1969), segundo disco de estúdio do britânico. Quando começaram a gravar, o produtor sentia que Bowie ainda não sabia quem era, nem o que queria fazer. "O que ele fazia de melhor era quando pegava sua guitarra de 12 cordas e fazia sua versão de folk rock".

Apesar da desavença inicial, os dois viraram amigos rapidamente. O primeiro encontro, que era para ser algo rápido, durou o dia todo, lembrou Visconti.

Na ocasião, a dupla saiu para passear pelas ruas de King's Road, em Londres, "para ver as butiques com roupas que não tínhamos dinheiro para comprar". E os dois resolveram ver um filme, "Faca na Água" (1962), de Roman Polanski. "Era como se fossemos irmãos."

Visconti também falou da própria educação musical. O produtor aprendeu cedo a ler partituras e a tocar baixo, se apresentando na paróquia local, festas de casamento e bar mitzvahs. "Fazia mais dinheiro que meu pai", lembrou.

Tudo mudou quando ouviu "I Want to Hold Your Hand" (1963), dos Beatles. "Quando vi a foto dos caras que fizeram, vi que tinham minha idade. Eu queria ir para Londres!", disse. "Vi como George Martin [produtor da banda] trabalhava com eles e [vi que] era isso que eu queria fazer: ser a pessoa que sabe tudo sobre música, o sabichão."


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