Folha de S. Paulo


Diretor lê todo o Gil e encontra a filosofia em musical sobre o cantor

Quando Gustavo Gasparani foi convidado a conceber e dirigir um musical sobre Gilberto Gil, o encenador estava à flor da pele. Era fim do ano passado, e ele acabara de perder a mãe e a amiga Bel Garcia, colega da Cia. dos Atores.

Resolveu então usar do instinto, já que, como diz, "Gil é da emoção". Ouviu todas as músicas e leu todas as letras do baiano. "Isso me levou para um lugar mais profundo, de filosofia", conta o diretor.

Assim, criou um trabalho não biográfico –o próprio compositor, ao ceder os direitos, não quis que o espetáculo tratasse de sua vida– e somente embasado nas músicas de Gil, que celebra meio século de carreira neste ano.

Em "Gilberto Gil, Aquele Abraço "" O Musical", que estreia na sexta (18) em São Paulo, oito atores-músicos interpretam 55 músicas de Gil, revezando-se em 39 instrumentos, que tocam em cena durante quase duas horas de peça.

"É uma logística complicada", diz o diretor musical Nando Duarte sobre a organização dos instrumentos, todos com microfones sem fio para que o elenco –o mesmo que Gasparani dirigiu em "Samba Futebol Clube" (2014)– possa tocá-los enquanto dança em cena.

Os arranjos lembram os originais, com modificações aqui e ali, seja no trabalho maior de coro masculino, seja num toque mais pessoal. "Muitos atores levaram suas propostas", conta Duarte.

Para seu solo de "Se Eu Quiser Falar com Deus", por exemplo, o curitibano Gabriel Manita faz uma versão rock.

REALCE

Os atores não têm personagens: logo no início deixam claro que "todos somos Gil".

Toda a narrativa é permeada pelas canções, ora cantadas, ora faladas, como se criassem um diálogo ou, em alguns casos, um monólogo –caso de "Nasci numa onda verde/ Na espuma me batizei", letra de "Beira Mar".

"Gil fala de todos os assuntos e com muita profundidade filosófica", diz Gasparani, para quem o musical é como uma exposição, uma retrospectiva da obra do baiano.

Ainda foram criados 12 blocos temáticos, que realçam os assuntos abordados pelo compositor em suas letras, como a negritude, o sertão, as críticas à ditadura e a ecologia –este, por exemplo, ganhou a alcunha de "A Raça Humana - Dois Mil e Gil: Uma Odisseia no Espaço".

Entre as músicas também entram cinco depoimentos, em que os atores narram relatos próprios e do diretor de lembranças do cancioneiro de Gil ou de como foram influenciados por sua obra.

O goiano Daniel Carneiro, por exemplo, fala de sua relação com o sertão. "Sempre que ouço o mestre Gil, que veio de lá e cá ficou, sinto cheiro de mato", diz em cena.

"Quem não tem uma parte de sua vida que, de alguma maneira, passou pelas músicas do Gil?", diz Gasparani.

O cenário de Helio Eichbauer traz vídeos e referências a artistas plásticos que de alguma forma dialogam com a obra de Gil, caso de Rubem Valentim e Athos Bulcão.

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REFAZENDO

Algumas canções da peça

  • "Palco"
  • "Eu Vim da Bahia"
  • "Toda Menina Baiana"
  • "Domingo No Parque"
  • "Se Eu Quiser Falar Com Deus"
  • "Não Chore Mais (No Woman, No Cry)"
  • "Esotérico"
  • "Drão"
  • "Filhos de Gandhi"
  • "Extra"
  • "Parabolicamará"
  • "Super-Homem (A Canção)"
  • "Pessoa Nefasta"
  • "Expresso 2222"
  • "Tempo Rei"
  • "Sítio do Pica-Pau Amarelo"
  • "Refazenda"
  • "Vamos Fugir
  • "Madalena (Entra Em Beco, Sai Em Beco)"
  • "Bat Macumba"
  • "Punk da Periferia"
  • "Aquele Abraço"
  • "Realce"
  • "São João, Xangô Menino"

GILBERTO GIL, AQUELE ABRAÇO - O MUSICAL
QUANDO qui. e sex., às 21h, sáb., às 18h e 21h30, dom., às 18h; até 29/5
ONDE Teatro Procópio Ferreira, r. Augusta, 2.823, tel. (11) 3083-4475
QUANTO R$ 50 a R$ 120
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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