Folha de S. Paulo


Mumford and Sons estreia no Brasil e arranca lágrimas de fãs no Lolla

O show do Mumford and Sons soou como um abraço em alguém de quem você tem saudade e está muito ansioso para ver. Em sua estreia no Brasil neste sábado (12), no Lollapalooza, a banda britânica emendou músicas como "Bellow My Feet", "Lover of the Light" e o hit "Little Lion Man" —esta, entregue já de segunda.

Para encerrar a programação do palco Onix, o grupo de Marcus Mumford privilegiou as músicas dos dois primeiros discos ("Sigh No More" e "Babel"), com banjo marcante e recursos de vocalização que lembram o coro de uma igreja. Favoreceu os fãs, que acompanharam como fieis de uma procissão imóvel.

O quarteto ensaia vir ao país há algumas temporadas, mas parece ter chegado na hora certa, quando pôde lotar a pista do autódromo de Interlagos e emendar sucessos até o fim da apresentação para fãs que choravam à vista dos telões. Um deles foi chamado para subir ao palco. A sortuda, Isabel, conseguiu segurar as lágrimas para traduzir algumas palavras de Marcus: "Esse é o show favorito da nossa vida. O Brasil é nosso país favorito", ela gritou com força no microfone.

Após a garota de cabelos longos descer de volta à pista, ainda deu tempo de outra garota invadir o tablado e balbuciar palavras incompreensíveis no microfone, até ser levada por seguranças. Marcus apenas sorriu e fingiu nem perceber o incidente.

"I Will Wait", que já foi frequente na programação radiofônica, chegou catártica para antecipar o fim. Em um show em que pouco foi dito —além dos tradicionais "boa noite" e "obrigado, São Paulo"— ficou a impressão de que a conversa (após o abraço inicial) foi boa, daquelas de bar para atravessar madrugadas e se revelar dramas, romances, alguns planos. "Até a próxima. Esperamos voltar em breve", despediu-se Marcus. A plateia já espera.

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Confira abaixo entrevista com a banda Mumford and Sons.

Folha - Os temas religião e espiritualidade são constantes no trabalho de vocês. De onde vem esse interesse?

Ben Lovett - A gente está nessa banda desde os 18, então muitas das nossas músicas são sobre descobrir-se, crescer, tornar-se homem, se perguntar coisas relacionadas a espiritualidade, garotas, amizade. É natural. A gente cresceu no Reino Unido, com um background espiritual, talvez não tão forte como o Brasil. Com certeza não soa como se a gente tivesse a resposta ou que a gente estivesse dizendo para as pessoas o que fazer.

Ted Dwane - A gente nunca pensou como sendo uma coisa cristã... é uma coisa mais espiritual. Como o Ben fala, a gente não está prescrevendo algo ou pregando algo. É só uma parte de amadurecer.

Ben Lovett - Hoje temos 30 anos, fase de encontrar respostas. Daqui dez anos, nós finalmente vamos concluir que não sabemos nada (risos). Agora a gente parece mais informado, mas tem um longo caminho pela frente. Tipo, "merdas acontecem mesmo, tudo bem" (risos).

Vocês parecem ter um espírito de comunidade. Teve aquela turnê com o Edward Sharpe & the Magnetic Zeros (transformado no documentário "Big Easy Express"), por exemplo. Como é o processo criativo do grupo?

Ted Dwane - Colaboração é uma parte muito importante para a criatividade. É como começamos. Essa é a maravilha de trabalhar com criação, compartilhar ideias com outras pessoas. Toda turnê que fazemos tem um elemento colaborativo. Fizemos uma na África do Sul, por exemplo, e trabalhamos com artistas locais.

Teve alguma parceria especialmente diferente, engraçada ou algo assim?

Ben Lovett - Cada música é diferente. Uma vez, a gente fez um disco com um monte de músicos de folk na Índia e nenhum deles falava inglês. Nenhuma palavra. E a gente fez um disco inteiro com eles. Uma música em particular inspirou uma canção nossa. Depois, gente perguntou sobre o que ela falava e, curiosamente, era exatamente sobre o que falamos na nossa, mesmo sem ter entendido. A gente estava cantando sobre o mesmo tema em línguas diferentes. Se você pensar, é algo tão estranho de acontecer, mas essa é a beleza da música. É muito poderoso.

Falando do novo álbum, ele é bem diferente dos anteriores. A primeira música que vocês soltaram, "Believe", soou um pouco como Coldplay. Como percebem isso?

Ted Dwane - É um pouco confuso. A gente ficou um pouco receoso de liberar apenas uma música na época. A gente sabia que ia soar diferente. Foi a primeira vez que a gente pôde sentar e explorar nosso som. Estávamos prontos para ouvir pessoas falando "uou, o que é isso". Mas nós somos pessoas criativas e precisamos crescer e evoluir. A gente escuta de tudo e algumas pessoas falam: "ah, parece isso, parece aquilo". E talvez pareça mesmo. Mas, para mim, soa como Mumford and Sons. A gente só estava tentando fazer as melhores músicas que podíamos. Então o próximo pode parecer diferente também. Talvez lembre Snoop Dogg (risos). Criatividade é uma jornada. A gente tem que continuar indo para frente.

E a pergunta que não pode faltar... Como é estar aqui? Tem muita gente esperando vocês.

Ben Lovett - Vir ao Brasil pela primeira vez para tocar para um público tão grande é incrível. Em todo lugar que tocamos normalmente começamos meio-dia, no meio da tarde. A gente espera que a expectativa não seja tão grande.

Estão nervosos?

Ted Dwane - Sim, sim. Nós
somos muito gratos por tantas pessoas terem vindo nos ver. Nós não merecemos ainda tudo isso. A gente não está na estrada há tanto tempo. Então somos muito humildes e vamos fazer o melhor que pudermos.


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