Folha de S. Paulo


Série quebra o formato tradicional ao exibir programas musicais históricos

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O compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914-1974) na "Série Documento"

Na década de 1970, alguns artistas estavam oficialmente rompidos com a TV Globo –caso de Chico Buarque– e outros não tinham simpatia pela emissora, cuja imagem era associada à ditadura.

Foi na Band que se realizaram muitos dos melhores programas musicais daqueles anos, quase sempre dirigidos por Roberto de Oliveira.

Parte deles ressurge em "O Tempo e a Música", série do canal pago Arte 1 –do Grupo Bandeirantes– e da produtora Cine Group que estreia em 20 de março. São oito episódios de meia hora cada, lançados sempre aos domingos, às 22h, e reprisados em outros dias da semana.

A série dribla várias facilidades que poderiam torná-la apenas curiosa. Não se limita, por exemplo, a reapresentar os programas. O primeiro capítulo, "Lupicínio Rodrigues e o samba-canção", parte de um especial de 1973 no qual o compositor gaúcho aparece de camisa rosa e paletó vinho, ao lado de uma mesa cenográfica de bar.

"É um filme de época, como um western, mas, se você presta atenção nas letras, poderiam estar sendo feitas agora", diz o produtor João Marcello Bôscoli, curador da série ao lado do historiador musical Zuza Homem de Mello.

A equipe do projeto, que tem direção de Sergio Raposo, mesclou às imagens de acervo os comentários de João Marcello e Zuza, além de depoimentos atuais –no caso de Lupicínio, os do filho dele e de Adriana Calcanhotto.

O drible na facilidade está em quebrar o formato tradicional de cenas de arquivo alternadas com pontificações no presente. Como destaca Zuza, as músicas continuam tocando sob as falas, que às vezes as comentam, caso de "O Chamado", interpretada em falsete por Milton Nascimento no segundo episódio, sobre o Clube da Esquina.

E outro acerto: os dois curadores e alguns convidados gravaram logo depois de assistir às imagens de acervo, mostrando-se às vezes emocionados. Acontece com Zuza ao ver Nora Ney e com João Marcello após o dueto entre sua mãe, Elis Regina, e Milton em "Canção do Sal".

João Marcello diz que as cenas dos anos 1970 os levaram a refletir sobre o presente.

"O Brasil deu uma piorada. Era muito talento junto. Quem está fazendo hoje algo que chegue perto do que essas pessoas fizeram? Não é normal o que Ronaldo Bastos e Fernando Brant escreviam com pouco mais de 20 anos."

Entre as imagens históricas estão as dos seis artistas principais do Clube da Esquina cantando juntos: Milton, Lô Borges, Beto Guedes, Brant, Bastos e Márcio Borges.

Há depoimentos recentes de Lô e de Milton, este nitidamente emocionado.

"Neste caso, eu interferi e convenci o Milton a ir. E ficou lindo", diz Zuza.

Na sequência, a série terá "O Samba Urbano de Adoniran e Cartola"; "Cale-se", sobre as canções de protesto durante a ditadura; "A Bahia dos Novos Baianos"; "O Baião de Todos", com imagens de Luiz Gonzaga e Dominguinhos; "Elis"; e "Versão Brasileira", tratando da influência americana.

O diretor-executivo do Arte 1, Caio Carvalho, estima em 400 os programas musicais do acervo da Band. Sonha com outros episódios, mas, como aponta a diretora de produção Luciana Pires, os custos de licenciamento são muito altos.

NA TV
O Tempo e a Música
QUANDO domingos, às 22h, no canal Arte 1; estreia em 20/3

LUIZ FERNANDO VIANNA é autor de "Aldir Blanc - Resposta ao Tempo" (Casa da Palavra).


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