Folha de S. Paulo


CRÍTICA

MAM paulista reduz ótimos trabalhos a exposição piegas

Fabio Cypriano
Obra de Wolfgang Tillmans Foto: Fabio Cypriano ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Obra de Wolfgang Tillmans em exposição no MAM

Uma reunião de ótimas obras não significa uma boa mostra. "Natureza Franciscana", em cartaz no MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, reflete como o trabalho curatorial pode simplificar a arte a ponto de torná-la mera ilustração de uma ideia.

Com curadoria do diretor da instituição, Felipe Chaimovich, a mostra reúne um time considerável de artistas, como os estrangeiros Yves Klein, On Kawara e Wolfgang Tillmans, e os brasileiros Nazareth Pacheco, Brígida Baltar e Thiago Rocha Pitta, mas suas obras são instrumentalizadas como mera ilustração do "Cântico das Criaturas", de são Francisco de Assis.

Escrito pelo santo católico no início do século 13, o texto é defendido por Chaimovich como precursor das questões ecológicas; e seu autor, como "fundador da ecologia".

A exposição, contudo, está longe de tocar nas catástrofes contemporâneas do meio ambiente, e a instituição e seu diretor, mesmo falando de ecologia, preferem ignorar os casos da crise hídrica no país ou da lama de Mariana (MG), em uma total falta de sensibilidade entre arte e seu contexto.

Ecologia no MAM é basicamente o elogio da natureza, usando as obras de arte em uma relação direta e explícita com os temas abordados por são Francisco. O pior é que a curadoria ignora até mesmo a radicalidade do santo católico, que abdicou da riqueza por uma vivência baseada na absoluta pobreza.

Assim, em "Natureza Franciscana", basta que cada artista ilustre um verso do cântico. "Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é muito útil e humilde e preciosa e casta", por exemplo, é o verso usado na sala de
Brígida Baltar, com sua obra "A Coleta da Neblina".

"Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas" está na sala de Tillmans, que apresenta imagens feitas por um potente telescópio no Chile, de estrelas a fungos. "Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal" é ilustrado pelo que o curador apresenta como a última obra de Leonilson, morto em 1993, aos 36, em decorrência da Aids.

Dessa forma, cada trabalho reduz-se de tal forma que leva "Natureza Franciscana" a estar mais adequada para uma folhinha piegas de editora religiosa do que para uma mostra em um museu de arte.

NATUREZA FRANCISCANA
QUANDO ter. a dom., das 10h às 18h; até 5/6
ONDE MAM, parque Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, tel. (11) 5085-1300
QUANTO R$ 6


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