De quando Ipanema era só felicidade e o amor doía em paz, Toquinho não tem saudade. "Não gosto da expressão 'bons tempos'."
O sentimento, ele diz à Folha, é mais próximo da curiosidade. "Às vezes estou num papo com amigos e fico imaginando, por exemplo, o que Vinicius [de Moraes] diria sobre a Dilma, o Lula..."
Impossível saber. Seu parceiro de 11 anos, 25 discos e 120 canções morreu em 1980, após um dia de conversa e violão com o amigo.
Já Toquinho tem muito o que falar. Prestes a celebrar os 50 anos do lançamento de seu primeiro disco, ele anda numa fase de indignação.
"Hoje tenho vergonha de ser brasileiro. É um país conturbado, movido pela corrupção, por escândalos. Esse não é o Brasil de que eu vim."
E não é só a política que o atormenta. "Não há mais um poeta no país. Vai ser difícil uma geração como a minha, ou como a da bossa nova, surgir num Brasil como esse."
Andreia Takaishi/Brazil Photo Press/Folhapress | ||
Toquinho durante show no Tom Brasil, em 2015 |
Mas o momento é de comemoração: o compositor vai celebrar o cinquentenário em um show no próximo dia 25, no teatro WTC, em São Paulo. Na apresentação, serão gravados trechos de um DVD, que também marca a data.
Velhos amigos e novos artistas dividirão com ele o palco -Ivan Lins, Mutinho, Paulo Ricardo, Tiê, Anna Setton e Verônica Ferriani. Também haverá gravações externas, com João Bosco, a pianista Eliane Elias e a violoncelista francesa Ophélie Gaillard.
"Todos da minha época começaram mais ou menos no mesmo período e estão comemorando seus 50 anos. Deveria haver uma grande festa para celebrar isso."
FERRUGEM DO TEMPO
Aos 69 anos, o músico afirma estar se saindo bem na missão de "vencer a ferrugem do tempo". "Estudo violão todos os dias. Estou tocando cada vez melhor. Esse é o desafio do artista."
Mas não se rende totalmente à atualidade. "Não gosto de rede social. Me parecem vilas, cheias de fofoca."
Ele defende, apesar disso, que a internet poderia ser melhor explorada por seus contemporâneos, muitas vezes "acomodados".
Com um histórico invejável de parcerias -além de Vinicius, Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Paulinho da Viola, entre outros-, afirma que não há alguém da nova geração que lhe desperte vontade de compor junto.
Sobre o futuro da música, acredita que as grandes canções, como a sua "Aquarela", ficarão. "Como diz o poema de Drummond, 'como ficou chato ser moderno, agora serei eterno'."