Folha de S. Paulo


Morre no Rio o músico Severino Filho, do grupo de bossa nova Os Cariocas

Reprodução/Site Oficial
Severino Filho, do grupo 'Os Cariocas
Severino Filho, do grupo Os Cariocas

Um dos fundadores do grupo musical Os Cariocas, Severino Filho morreu na manhã desta terça (1º), no Rio, aos 88 anos. Ele estava internado desde 18 de janeiro, com um quadro de trombose pulmonar, no Hospital Quinta D'Or, em São Cristóvão.

Músico de múltiplos talentos, Severino Filho foi o único integrante dos Cariocas a participar de todas as nove formações do conjunto, um dos vocais mais modernos, longevos e importantes do país.

Nascido em Belém (PA) em 1928, ele foi para o Rio durante a infância, acompanhado da família –incluindo o irmão, Ismael Netto, com quem criou o grupo em 1942.

Nos anos 1940, os irmãos e mais três amigos despontaram na Rádio Nacional, no programa de calouros "Papel Carbono" com imitações de grupos vocais americanos como Pied Pipers. O jornalista Nelson Motta lembra que, na época, eles "estabeleceram um novo padrão de qualidade, com harmonias modernas e audaciosas, perfeita sincronia e repertório de alto nível".

Na sequência, os Cariocas assinaram contrato para participar regularmente do programa "Um Milhão de Melodias", uma das maiores audiências da rádio que dominava a cena musical do país.

O sucesso viria em 1948, com a gravação de "Adeus, América", de Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques, mais tarde incorporado ao repertório da bossa nova por João Gilberto. Em seguida, Os Cariocas foram os primeiros a registrar em vinil "Valsa de uma Cidade", a mais famosa composição de Ismael Netto e Antônio Maria, hoje mais conhecida na versão de Caetano Veloso.

Com a morte de Ismael Netto, em 1956, Severino Filho convocou sua irmã Hortênsia para substituí-lo e assumiu a liderança dos Cariocas, mantendo a principal característica do conjunto: uma moderna harmonização polifônica, em cinco vozes, que exerceria influência sobre grupos vocais brasileiros como o MPB-4.

Sua carreira não se limitava ao conjunto. Severino Filho trabalhou como arranjador da Rádio Nacional e foi autor, por exemplo, do arranjo de "Conceição", gravado em 1957 por Dolores Duran.

Na segunda fase dos Cariocas, que se estenderia até 1967, o conjunto foi valorizado pelo surgimento da bossa nova, cuja sofisticação musical era compatível com os arranjos econômicos e dissonantes de Severino Filho.

Com a música americana na bagagem, Os Cariocas logo aderiram à bossa nova. Em 1959, no primeiro show do movimento transmitido ao vivo pela rádio, o grupo cantou o hino bossa-novista "Chega de Saudade", de Tom e Vinicius.

PIANO E MELODIA

Nos anos 1960, quando Os Cariocas viveram o período de maior prestígio e popularidade, Severino Filho assumiu o piano e, na divisão de vozes, ficou com a melodia. Entre 1962 e 1967, sob seu comando, o conjunto gravou seus principais discos, como "A Bossa dos Cariocas" (1962), "A Grande Bossa dos Cariocas" (1964) e "Passaporte" (1966).

Também nessa época fizeram sucesso no exterior, apresentando-se na Argentina, no México e nos EUA, onde chegaram a gravar um disco, "Introducing the Cariocas", produzido por Quincy Jones.

Divulgação/Sesc
Severino Filho e o grupo Os Cariocas
Severino Filho e o grupo Os Cariocas

Em 1967, no auge da carreira, o conjunto se dissolveu devido a desentendimentos. Só voltaria a se apresentar duas décadas mais tarde, mas então sem a mesma relevância.

Desse período um destaque foi o disco "Amigo do Rei", de meados dos anos 1990, com o também tijucano Tim Maia.

"Vi vários shows dos Cariocas com Tim Maia, que adorava o grupo e tinha o sonho de gravar com ele", lembra Motta. "Acabou realizando-o um ano antes da sua morte".

O músico é tema de um documentário dirigido pela atriz Lúcia Veríssimo, sua filha, que será lançado neste ano.


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