Folha de S. Paulo


Atriz do Grupo Galpão encarna loucura em peça inspirada em Drummond

Se "toda cidade tem seu doido", como define Teuda Bara, todos os loucos estão no palco, na pele da protagonista de "Doida", peça que a atriz, uma das fundadoras do mineiro Grupo Galpão, estreia nesta sexta-feira (26) em São Paulo.

É um projeto que soma mais de dez anos, desde que seu filho mais novo, Admar Fernandes, apresentou-lhe o conto homônimo de Carlos Drummond de Andrade.

À época, Teuda fazia outra "loucura": aos 65, com mais de cem quilos e sem falar inglês, foi convidada pelo canadense Robert Lepage a integrar o elenco de "KÀ", do Cirque du Soleil. Teve de driblar língua e números circenses. Ainda assim, o texto do mineiro não lhe saiu da cabeça.

Daniel Bianchini/Divulgação
A atriz Teuda Bara em cena da peça
A atriz Teuda Bara em cena da peça "Doida", inspirada em conto de Drummond

Mas faltava algo. O conto, sobre uma doida de uma cidadezinha, é narrado pelo ponto de vista de um garoto que, com os amigos, temerosos e fascinados por essa mulher, divertem-se em atirar pedras na casa da tal biruta.

Para a montagem, era preciso uma voz própria para a doida, e foram acrescidos à dramaturgia obras de outros autores –como Hilda Hilst–, referências a personagens que flertam com a loucura, caso de Bispo do Rosário, Stela do Patrocínio e outros textos do próprio Drummond.

Também costuram a trama histórias de família que Teuda, 75, ouviu ao longo da vida. "É uma colchinha de retalhos", conta a atriz.

Assim, o enredo é apresentado pelo tal garoto-narrador, espécie de alter ego de Drummond, aqui interpretado por Admar, em sua primeira parceria com a mãe. Mas é sozinha na noite que a doida sai para o quintal e divaga sobre suas memórias e devaneios.

"Fomos vasculhando a obra de Drummond e achamos trechos preciosos que coincidiam com o que a noite estava trazendo para ela", conta a diretora Inês Peixoto, também integrante do Galpão.

Inclusive seus escritos eróticos, publicados em "O Amor Natural", que despertam as lembranças de desejo e as paixões da doida, sua "noite libidinosa", como define Inês.

Músico, Admar ainda interpreta a trilha sonora da peça. Intercala com instrumentos de percussão os sons desse refúgio interiorano: ladros de cão, voos de pássaros.

Habituada a montagens mais grandiosas e de elencos numerosos, Teuda faz em "Doida" um exercício intimista, já que atua como em um monólogo, sem interagir em cena com o filho. "Por estar sozinha no palco, fiquei até com um medinho", diz ela.

A dramaturgia de "Doida" é do jornalista João Santos, ex-estagiário da área de comunicação do grupo mineiro.

É dele a biografia "Teuda Bara - Comunista demais para Ser Chacrete", que será lançada durante a temporada do espetáculo no Sesc Santana.

Projeto de João para a conclusão do curso de jornalismo, a obra repassa a vida da atriz, figura folclórica da cena teatral de Belo Horizonte e que, aos 40 e já com dois filhos, ajudou a fundar o Galpão com uma turma de "20 e poucos anos".

DOIDA
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h; até 20/3
ONDE Sesc Santana, av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. (11) 2971 8700
QUANTO R$ 9 e R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 12 anos

COMUNISTA DEMAIS PARA SER CHACRETE
AUTOR João Santos
EDITORA Javali
QUANTO R$ 35 (240 págs.)
LANÇAMENTO 5/3, das 16h às 17h30, no Sesc Santana


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