Folha de S. Paulo


Sinagoga mais antiga de SP abrigará memorial judaico

Sinagoga mais antiga de São Paulo, a Kehilat Israel, fundada em 1912, no Bom Retiro, passa a abrigar memorial da imigração judaica, com peças e documentos que relatam a história do povo judeu na cidade.

Inaugurado nesta terça-feira (23) e aberto ao público a partir de quarta (24), o memorial conta com painéis interativos desenvolvidos pela Base 7, empresa responsável pelo Museu do Futebol.

"O objetivo é antes didático do que histórico, queremos que as pessoas aprendam sobre os costumes e a trajetória dos judeus brasileiros", conta o curador Fábio Magalhães.

Para ele, faltava um espaço em que a própria comunidade judaica contasse sua história, como italianos e japoneses fizeram ao construir seus centros de memória.

Com um acervo de cerca de oitocentos itens incluindo documentos e peças utilizadas em rituais religiosos, o memorial ressalta a contribuição da comunidade judaica na construção de São Paulo. Os painéis interativos mostram, por exemplo, uma galeria de personalidades judaicas que vai da atriz Débora Bloch ao estilista Alexandre Herchcovitch.

Uma mesa projeta um antigo mapa do bairro do Bom Retiro para mostrar como as diversas organizações judaicas foram se estabelecendo na região, modificando a paisagem.

Vídeos educativos apresentam alguns dos principais valores e costumes e suas variações entre os diferentes grupos judaicos.

Festas e rituais mais importantes são explicados ao público, entre eles, o casamento. Para isso, foi montado um altar com uma taça virtual que pode ser quebrada, assim como nas cerimônias reais.

Itens como castiçais, mezuzás (pequeno recipiente com um rolo de pergaminho dentro que contém duas passagens bíblicas manuscritas e que costuma ser afixado nas portas de estabelecimentos cujos donos são judeus religiosos) e fotos vieram sobretudo de doações da comunidade.

"Por ser a mais antiga, a Kehilat Israel [do hebraico, comunidade de Israel] é muito querida por toda a comunidade e tivemos doações de famílias que frequentam muitas sinagogas", explica o rabino David Weitman, atual responsável pela sinagoga.

Entre as peças expostas está o diário de viagem do neurologista Henrique Sam Mindlin, tio-avó do bibliófilo José Mindlin, escrito em 1908, quando o médico tinha apenas 11 anos. O diário narra sua vinda de navio da cidade de Odessa, na Ucrânia, até o Rio de Janeiro.

"É um documento fascinante porque você percebe que era só uma criança, mas enfrentando dificuldades consideráveis e sempre com essa ânsia muito própria do judeu de registrar, de contar sua história", diz Silvia Mindlin, filha de Henrique que doou o diário para o memorial.

"Minha família começou a imigrar para o Brasil antes da guerra, quando o antissemitismo já se alastrava pela Europa", conta.

Entre outras raridades estão o livro "Diálogos de Amor", de 1580, publicado por Leon Yuda Abravanel de Veneza, antepassado do apresentador Silvio Santos, e um documento com frases cabalistas de proteção e saúde de 250 anos, utilizado pelos imigrantes marroquinos como talismã.

O memorial será aberto com quatro andares. Em 2017, um quinto andar será inaugurado explicando especificidades dos doze países que enviaram imigrantes judeus para o Brasil e as diferentes razões que motivaram cada uma das ondas imigratórias, além de um jardim relembrando as vítimas da Shoá [Holocausto].

A sinagoga —que atualmente recebe cerca de 30 pessoas por dia em seu serviço— continuará funcionando mesmo com o memorial.

MEMORIAL DA IMIGRAÇÃO JUDAICA

QUANDO seg. a sex., das 10h às 17h
ONDE Kehilat Israel, r. da Graça, 160, tel. (11) 3663-2838
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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