Folha de S. Paulo


Documentário sobre refugiados vence edição politizada do Festival de Berlim

Em edição marcada pela crise dos refugiados, o politizado Festival de Berlim premiou neste sábado (20) o documentário franco-italiano "Fuocoammare", de Gianfranco Rosi, com o Urso de Ouro, maior honraria da mostra alemã de cinema.

Já apontado como favorito desde que estreou em Berlim, o filme retrata a crise migratória por que passa a Europa sob o ponto de vista dos habitantes de Lampedusa, ilha italiana encravada entre a Sicília e o norte de África que é um dos principais pontos de entrada dos refugiados na Europa.

Tobias Schwarz - 20.fev.2016/AFP
Italian director Gianfranco Rosi reacts after receiving the Golden Bear for Best Film for the film
O diretor italiano Gianfranco Rosi após vencer o Urso de Ouro em Berlim por 'Fuocoammare'

"Dedico esse prêmio ao povo de Lampedusa, sempre aberto a receber o povo que chega lá", disse Rosi, que em 2013 já havia ganhado o prêmio máximo do Festival de Veneza por "Sacro GRA". "Não é aceitável que pessoas morram no mar por escapar de tragédias."

"Fuocoammare" (que pode ser traduzido como "fogo no mar") intercala as agruras por que passam africanos e asiáticos que empreendem a jornada clandestina pelo Mediterrâneo com o cotidiano de um menino italiano, Samuele, à primeira vista apartado do que ocorre à sua volta.

"O menino é um pouco como nós, europeus, não sabe o que fazer diante dessa situação", disse o diretor na coletiva de imprensa após a exibição do filme. Seu documentário também inclui depoimento de um médico que atua na ilha e detalha as mazelas sofridas pelos refugiados: 400 mil nos últimos 20 anos, segundo mostra "Fuocoammare".

URGENTE

Ao todo, 18 longas-metragens disputaram na competição da Berlinale, uma das principais mostras de cinema do mundo. Para a atriz americana Meryl Streep, que presidiu o júri da edição, o filme de Rosi é "urgente" e "imaginativo" e se comunica com o mundo de fevereiro de 2016.

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FESTIVAL DE BERLIM Gianfranco Rosi no filme
Samuele no filme 'Fuocoammare', do italiano Gianfranco Rosi, vencedor do Urso de Ouro

A politização também marcou o grande prêmio do júri, vencido pela coprodução franco-bósnia "Morte em Sarajevo", que pode ser vista como uma metáfora das dificuldades de convivência dos europeus dentro de um mesmo bloco.

A francesa Mia Hansen Love ("L'Avenir") ganhou o Urso de Prata de melhor direção. Já o filipino Lav Diaz e seu "Canção de Ninar ao Mistério Doloroso", filme com oito horas de duração, saiu com o prêmio Alfred Bauer, voltado a produções que abrem novas perspectivas.

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'Canção de Ninar ao Mistério Doloroso', filme de oito horas do filipino Lav Diaz

Na categoria de filme de um diretor estreante, o premiado foi Mohamed Ben Attia tunisino "Inhebek Hedi", que também rendeu o troféu de melhor ator a seu protagonista, vivido por Majd Matsoura, um homem atormentado entre as tradições de seu povo e um novo amor.

A dinamarquesa Trine Dyrholm levou o prêmio de melhor atriz por seu papel como uma mulher de meia-idade que resolve viver em uma comunidade com amigos (e outros nem tantos) no longa "The Commune", de Thomas Vinterberg. Nessa categoria, Isabelle Huppert era bem cotada por seu papel em "L'Avenir".

As imagens exuberantes do chinês "Contracorrente", de Yang Choo, lhe valeram o prêmio de melhor fotografia da edição. "United States of Love", do polonês Tomasz Wasilewski, ganhou o prêmio de melhor roteiro por sua trama sobre quatro mulheres às voltas com as transformações da Polônia após a queda da Cortina de Ferro.

Entre os curtas-metragens, o português "Balada de Um Batráquio", de Leonor Teles, saiu com o Urso de Ouro. "Nunca pensei que um filme tão parvo como este pudesse ganhar esse prêmio", disse a diretora ao receber o troféu. O Urso de Prata foi para a coprodução Reino Unido-Holanda-Dinamarca "A Man Returned", de Mahdi Flaifel.

O Brasil esteve presente na mostra Panorama do Festival de Berlim, paralela à competição do júri, com três filmes: "Mãe Só Há Uma", de Anna Muylaert; "Antes o Tempo Não Acabava", de Sergio Andrade e Fábio Baldo; e o documentário "Curumim", de Marcos Prado.

O país não foi premiado nas categorias principais da seção, mas a trama sobre transexualidade de "Mãe Só Há Uma" foi lembrada pelo Teddy, conjunto de premiações para filmes com temática LGBTT: o longa de Muylaert ganhou troféu concedido pela revista gay alemã "Männer.


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