Folha de S. Paulo


Fenômeno no Facebook, humor negro de Joan Cornellà une Kafka a punk

Uma menininha que fica chapada depois de levar pico na veia. Um homem que usa escopeta para explodir a cabeça de um menino e transformar seu corpo em fantoche. Uma animadora de torcida com corda no pescoço que será enforcada assim que a pirâmide humana desmoronar.

O humor do catalão Joan Cornellà, 35, não é para qualquer um, mas é para muitos: sua página no Facebook tem mais de 3,2 milhões de fãs de sua obra, carregada na tinta da morbidez e do sadismo.

Parte desse bizarro show de horrores está na coletânea "Zonzo", que ganha edição aqui em março, pela Mino.

"Nada é mais engraçado que a infelicidade." Assim o ilustrador explica seu trabalho à Folha, citando Samuel Beckett (1906-1989) na peça "Fim de Partida".

"Não sabemos qual é o rosto da morte e quando ela acontece, só podemos rir ou chorar", diz. E ainda: "Gosto de pensar que o que torna meus quadrinhos divertidos é o fato de serem tratados como absurdos"

INSENSATEZ

De certa forma, a insensatez está na vida do artista desde seu nascimento: o nome Joan, pouco comum entre homens, foi-lhe dado em reverência a Joan Crawford (1904-1977), que ganhou o Oscar em 1945, pela interpretação no longa "Alma em Suplício".

"Meus pais se encantaram e me batizaram com nome de menina", diz Cornellà.

"Eles também pensaram que seria boa ideia se aproveitar financeiramente de um menor e de sua habilidade com o desenho", brinca o artista.

É que, aos oito anos, ele já vendia seus quadrinhos nas ruas de Blanes, cidade "ao estilo Twin Peaks", a 65 quilômetros de Barcelona. Naquela época, os desenhos não tinham tanto sangue, tanta droga e tanto infortúnio.

Além de Beckett, Cornellà cita como referência o autor Franz Kafka (1883-1924), a banda norte-americana de punk hardcore Minor Threat e o artista plástico belga Brecht Vandenbroucke.

"Mas acho que [meu trabalho] tem mais relação com esquetes de humor. 'Monty Python's Flying Circus' deveria ser matéria escolar", afirma.
limites

Devido ao conteúdo insalubre de suas criações, Cornellà sempre recebe, via redes sociais, mensagens de ódio e ameaças de morte.

Sua concorrida página no Facebook chegou a ser suspensa por um mês, em novembro de 2015, e novamente agora, em fevereiro.

Janaína de Luna, sócia da casa editorial Mino, com apenas 15 meses de existência, diz que "antes de abrir a editora, a gente já queria lançar Cornellà".

"Temos uma proposta clara de publicar quadrinhos com personalidade, e ele é um dos pilares disso. Às vezes ele pesa a mão mesmo, passa do limite. Mas não tem como fazer algo artístico sem arriscar, sem provocar", diz ela.

ZONZO
AUTOR Joan Cornellà
EDITORA Mino
QUANTO R$ 48 (56 págs.), pré-venda a partir de
segunda-feira (15), em facebook.com/editoramino


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