Folha de S. Paulo


crítica

Indicado ao Oscar, 'Brooklin' é filme fácil de assistir e de esquecer

assista ao trailer

Uma cena apenas basta para definir "Brooklin": após longa e incômoda viagem, a jovem irlandesa Eilis chega aos EUA. Quando um policial lhe concede o direito de entrar no país, ela se dirige à porta de entrada. Abre-a e, então, uma grande luz vindo do fundo cobre sua figura. Não é a entrada de um país, mas do paraíso.

O tom está dado. Não sejamos ingênuos, porém. O filme, ao menos, não o é: a imigração não é um paraíso. Estamos em meados do século passado, e Eilis enfrentará mais ou menos todos os problemas de adaptação pelos quais passa quem troca de país.

Existe uma particularidade adicional: os costumes e tradições irlandeses estão arraigados, o que torna a experiência ainda mais amarga, especialmente porque Eilis é uma garota meio sem graça. É assim que ela vive seus primeiros tempos em Nova York.

Como sempre nesses casos, o que pode arranjar as coisas é um namorado, e Eilis conhece um rapaz de origem italiana que parece estimá-la de verdade. Sua aparência subitamente se ilumina, e o estudo lhe permite sonhar com um futuro mais promissor. Ela parece esquecer a Irlanda.

Kerry Brown-14.jan.2016/Fox Searchlight/AP
This photo provided by Fox Searchlight shows Saoirse Ronan, left, and Emory Cohen in a scene from the film,
Saoirse Ronan e Emory Cohen em cena de "Brooklin"

Mas, não por acaso, logo no começo de "Brooklin", é evocado "Depois do Vendaval" (1952), em que, pelas mãos de John Ford, esse perpétuo vaivém entre Irlanda e EUA ganhou, há mais de 60 anos, sua obra-prima.

No caso, tudo ia muito bem, quando sua irmã morre –aquela que arranjou tudo para que a garota inteligente e sem emprego decente pudesse ter uma chance nos EUA. O incidente força o retorno à Irlanda no momento em que ela está bem, cheia de boas perspectivas.

Assim, não se trata apenas de fazer companhia à mãe –ali ela também consegue um bom emprego e, mais importante, um pretendente quase tão simpático e mais rico que o jovem italiano. Aquele país que parecia o paraíso de repente é confrontado à força da tradição irlandesa, de seus costumes, de sua –é o que se sugere– imobilidade.

Eis o dilema de Eilis: ficar ou voltar. Bem raso, pode-se perceber, mas à altura do que, com alguma exceção, nos propõe esta edição do Oscar de suposto melhor filme.

É possível pensar que "Brooklin" faça parte da lista como representante da inevitável cota britânica de todos os anos. Pode ser. O certo é que a principal, a mais inquietante questão que este filme propõe: por que diabos a distribuidora houve por bem traduzir o título original, "Brooklyn", por "Brooklin", promovendo a inócua substituição de um y por um i?

Tudo o mais está dentro do previsível. Mesmo que a comparação a fazer fosse com o razoavelmente frustrado "Era uma Vez em Nova York" (2013), "Brooklin" teria a oferecer apenas algum conforto ao espectador que veja no cinema uma distração.

Este é um filme para ver facilmente e esquecer com facilidade ainda maior.

BROOKLIN
DIREÇÃO: John Crowley
ELENCO: Saoirse Ronan, Emory Cohen e Domhnall Gleeson
PRODUÇÃO: Irlanda/Reino Unido/Canadá, 2015, 12 anos
QUANDO: estreia nesta quinta (11)


Endereço da página:

Links no texto: