Folha de S. Paulo


Indicados ao Oscar montam figurinos afinados com a moda contemporânea

Indicados à estatueta de melhor figurino no Oscar, Sandy Powell, Jenny Beaven, Paco Delgado e Jacqueline West concorrem não apenas pela beleza das suas criações, mas por terem construído personagens afinados com a moda contemporânea.

Aqui há fantasia, peles, força, fusão e militarismo —cinco componentes usados nas passarelas e reflexos do contexto histórico.

Saiba como esses nomes farão da premiação de 28 de fevereiro uma das mais interessantes dos últimos anos.

  • CAROL

A figurinista Sandy Powell tem a seu favor um tipo de roupa que a Academia adora premiar: a de época. E o forte da concorrente mais bem cotada deste ano é, sem dúvida, a capacidade de adaptar a indumentária de um período histórico.

Em "Entrevista com o Vampiro" (1994), ela foi capaz de evoluir o estilo do personagem Louis ao longo dos séculos, sem que ele perdesse sua identidade. "Carol" segue a mesma premissa de desembrulhar a personalidade por meio das roupas.

A persona de Carol Aird (Cate Blanchett) é percebida com um guarda-roupa estudado em revistas de moda publicadas entre 1952 e 1953. O "new look" de Christian Dior acabara de ser coroado o visual que revolucionaria a década, mas Carol opta pelo estilo da Segunda Guerra Mundial, com saia e jaqueta mais justas, cortadas com técnicas de alfaiataria.

As cores sóbrias, os grafismos apagados e os casacos de pele suntuosos produzem uma aura de glamour à beira de um colapso, assim como a vida da personagem principal do filme.

  • CINDERELA

O ambiente lúdico de "Cinderela" se distancia do armário florido dos desenhos da Disney e não é tão seco quanto o da adaptação de "Branca de Neve e o Caçador" (2012).

O conto de fadas proposto também por Sandy Powell é uma soma das décadas de 1940 e 1980 com o período vitoriano, equação bem calculada de glamour e austeridade próprias do conto infantil.

As joias foram feitas em parceria com a empresa austríaca de cristais Swarovski. O vestido de Cinderela, por exemplo, tinha várias camadas de seda finas e demorava cerca de 20 minutos para ser vestido.

Com duas indicações, Powell é a favorita, mas não terá o prêmio de mão beijada. Ela já ganhou três estatuetas do Oscar na carreira –"Shakespeare Apaixonado" (1998), de John Madden; "O Aviador" (2004), de Martin Scorsese; e "A Jovem Rainha Vitória" (2009), de Jean-Marc Vallé–, e, mesmo que Edith Head (1897-1981) tenha levado oito prêmios por seus figurinos, desde os anos 2000 a Academia não costuma dar mais do que três a uma única pessoa.

  • A GAROTA DINAMARQUESA

"A Garota Dinamarquesa", de Tom Hooper, não concorre aos prêmios de melhor filme e melhor diretor, mas a Academia fez jus ao que ele tem de melhor: seus atores e a construção dos personagens.

O figurino de Paco Delgado, espanhol indicado pelo armário de "Os Miseráveis" (2013), do mesmo diretor, é um estudo sobre a transformação de uma mulher nascida num corpo masculino. As linhas do vestuário de ambos os sexos são testadas em capas, rendas, ternos, gravatas de laço, peles, metros de seda e uma feminilidade que passeia entre recato e exuberância.

A trajetória de libertação da artista plástica Lili Elbe (Eddie Redmayne), primeira transexual a fazer a cirurgia de mudança de sexo, poderia ser contada por suas roupas e, Delgado alinhava uma coleção de cores neutras que, durante a transformação da personagem, se abre em tons vivos.

O estilo livre dos espartilhos, corrente iniciada no início do século 20 por Paul Poiret (1879-1949), serviu de base para o guarda-roupa calcado nos anos 1920.

  • O REGRESSO
Divulgação
Créditos: Kimberley French/Divulgação Legenda: Cena do filme O REGRESSO ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM*** leonardo dicaprio
Leonardo Di Caprio em cena de "O Regresso"

Acostumada a criar figurinos luxuosos como os de "O Curioso Caso de Benjamim Button" (2008) e "Contos Proibidos do Marquês de Sade" (2000), Jacqueline West teve de sujar a mão de sangue e passar frio para conceber o visual de "O Regresso".

O périplo de Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) na busca por vingança foi adornado a partir de ilustrações de Alfred Jacob Miller e retratos dos índios americanos desenhados por Karl Bodmer no século 19. Consultas ao ex-diretor do Museu da Pele de Nebraska (EUA), Gail DeBuse, foram decisivas para a manufatura dos tecidos e para a escolha das cores dos looks.

As peles usadas são verdadeiras e foram encomendadas à Companhia de Peles do Pacífico. A veracidade da matéria-prima teria sido um fator importante para o efeito da roupa na tela. O diretor Alejandro González Iñárritu testou as peças em várias tomadas até conseguir texturas precisas.Para aguentar o frio extremo, a equipe usou uma segunda pele de poliuretano, também criada por West.

  • MAD MAX: Estrada da Fúria

Vencedora do Oscar de melhor figurino pelo filme "Uma Janela Para o Amor" (1987), de James Ivory, a britânica Jenny Beaven retorna à lista dos indicados também com um filme de época, mas numa passagem de tempo de um futuro distante.

A estética pós-apocalíptica de "Mad Max: A Estrada da Fúria" é suja, sem cor e com muitas camadas de tecido grosso, usado como uma armadura à prova de balas. As características do guarda-roupa militar foram misturadas a clichês da indumentária punk: cabelos em pé, roupas rasgadas, couro, preto e maquiagem borrada. As penas pregadas nos ombros e, por vezes, no cabelo, remetem às tribos nômades.

Beaven também adiciona elementos da corrente "dieselpunk", um modelo de ficção científica dos anos 1930 e 1940 que tinha veículos de lata movidos a combustível, a ideia de futurismo do início do século 20. Acessórios de metal, óculos grosseiros e toda a sorte de penduricalhos funcionais compõem o caldeirão de "Mad Max".


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