Folha de S. Paulo


Jagger e Scorsese se unem para fazer série sobre sexo, cocaína e rock nos 70

Trailer de "Vinyl"

Ao encostar seu carro em uma rua deserta da Nova York de 1973 para comprar cocaína, Richie Finestra (Bobby Cannavale) ouve do traficante: "Homem de Wall Street?". Ofendido, ele devolve: "Porra, por acaso pareço um? Sou um homem de gravadora!".

Na sequência, Finestra arranca o retrovisor para cheirar o pó e segue para um clube noturno. Lá dentro, seu delírio aumenta ao som de "Personality Crisis", que os New York Dolls interpretam no palco. "Pense na primeira vez que você ouviu uma música que fez sua nuca arrepiar, fez você querer dançar ou sair chutando o rabo de alguém. É disso que estou falando", diz o dono da fictícia gravadora American Century.

É desta maneira que o protagonista de "Vinyl" é apresentado ao público por Martin Scorsese no piloto da série da HBO, que estreia à 0h da virada de domingo (14/2) para segunda (15), apenas três horas após ir ao ar nos EUA.

O episódio de duas horas, que parece ter sido filmado nos anos 1970, é o único dos dez da temporada com Scorsese na direção. O cineasta ainda assina a produção-executiva, ao lado de Mick Jagger e de Terence Winter ("Sopranos" e "Boardwalk Empire")

Na trama, a gravadora de Finestra está à beira da falência, e o seu dono precisa achar algo original e vendável em uma Nova York onde gêneros como punk, disco e hip-hop estão surgindo. Integram o elenco da atração Ray Romano ("Everybody Loves Raymond") e Olivia Wilde ("House"), entre outros.

SABE TUDO

A ideia de "Vinyl" nasceu de alguém que conhece bem o "showbusiness" e os anos 1970: Mick Jagger. Em 1996, o líder dos Rolling Stones apresentou a Scorsese o projeto de um filme sobre os bastidores da indústria fonográfica, que englobaria quatro décadas.

Após a crise financeira de 2008, nenhum estúdio quis investir num longa de alto custo e "Vinyl" acabou na TV.

"Quando as séries começaram a ficar interessantes, respeitáveis e lucrativas, decidimos fazer um seriado", afirmou Jagger, num evento para jornalistas em Los Angeles, no dia 7.

Scorsese contou ter criado a identidade visual de "Vinyl" pensando na maneira como ele começou a escutar música, principalmente aos 13 anos, quando o rock passou a fazer parte de sua vida.

"Quis que a música se tornasse parte da narrativa, não convencional. Mas a narrativa toda é como um trecho de música. Você ouve a trilha que está na cabeça de Finestra."

Questionado se "Vinyl" poderia trazer o rock de volta à cena pop, Jagger declarou: "É uma boa série de TV, um bom drama. Não sei o que acontecerá com a música."

LED ZEPPELIN

Em uma das sequências de "Vinyl", o Led Zeppelin se prepara para uma apresentação em NY quando Richie Finestra é chamado para resolver um problema.

O empresário do Zeppelin, o famoso estouradão Peter Grant, reclama de estar sendo passado para trás e ameaça não realizar mais o show. O protagonista da série tenta então resolver a questão com Robert Plant.

Em toda a narrativa de "Vinyl", personagens reais se misturam a fictícios. Estão lá, textualmente ou apenas como inspiração, os New York Dolls, Lou Reed, Otis Redding, David Bowie, Alice Cooper etc. (alguns receberam o roteiro e autorizaram serem citados).

Terence Winter, roteirista e "showrunner" (principal responsável) da série, frisa que, apesar de ter músicos reais, "Vinyl" não conta a história de ninguém e que ele trabalhou com uma licença poética para forçar os limites entre realidade e ficção.

"É o relato de um narrador não confiável, que de cara diz que suas memórias são encobertas por 'neurônios perdidos e um monte de merda'", diz.

Segundo Winter, muitas pessoas que viram a série não conseguiram diferenciar as bandas reais das fictícias, com canções compostas para a trama.

Em entrevista da qual a Folha participou, Bobby Cannavale contou ter sido convidado para o papel de Richie Finestra quatro anos antes de começar a gravar.

Nesse tempo, se preparou conversando com importantes personagens da cena musical dos anos 1970, como os cantores David Johansen e Patti Smith, e o produtor Clive Davis. "Tive acesso a todo mundo daquele período com quem eu queria falar. Foi incrível", diz o ator.

Cannavale também cita Danny Goldberg, ex-assessor do Zeppelin, como uma importante fonte de informação. "Ele lembra de muita coisa, apestar de ter usado tanta droga (risos)."

Outro ator que promete surpreender o público é Ray Romano. O protagonista de "Everybody Loves Raymond" interpreta Zak Yankovich, braço direito de Finestra na gravadora, e aparecerá em cenas fortes.

"Para todo mundo que me conhece de 'Everybody Loves...', um aviso: não assistam ao episódio 7. Estarei pelado (risos)", brinca. "'Vinyl' será uma virada na minha carreira."

A jornalista LÍGIA MESQUITA viajou a convite da HBO

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BASTIDORES

  • Mick Jagger foi a reuniões no Writers' Room, espécie de laboratório onde roteiristas desenvolvem séries. "Levou 15 minutos para as pessoas aceitarem que ele estava lá", diz o produtor Winter.
  • A produção gastou muito dinheiro com lixo para recriar as ruas sujas da Nova York dos anos 1970.
  • Nos roteiros para os atores, sempre eram citadas as canções que iriam tocar na edição final. Para entrar no clima.
  • "Vinyl" teve um departamento inteiro dedicado a negociar direitos autorais para a trilha. A produção não diz quanto gastou com as músicas.
  • Olivia Wilde, que interpreta Devon, conheceu Mick Jagger quando era criança e o roqueiro foi jantar na casa de seus pais jornalistas. Jagger sentou no lugar dela na mesa e ela o mandou sair. "Virou uma piada familiar. E hoje ele é meu chefe (risos)."

NA TV
Vinyl
Estreia da série, na HBO
QUANDO domingo (14/2), meia-noite


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