Folha de S. Paulo


Crise na Petrobras afeta patrocínios a projetos culturais e suspende editais

A crise da Petrobras afetou sua política de patrocínio cultural, considerada a mais abrangente do país.

Há três anos consecutivos não há lançamento, em caráter nacional, de seu edital de seleção pública de projetos culturais, iniciado em 2000. A Folha apurou que o cenário deve se repetir neste ano.

A Petrobras também reduzirá o fomento direto, sem renúncia fiscal, direcionado a projetos considerados estratégicos, como os grupos Corpo (dança), Galpão (teatro) e a Orquestra Petrobras Sinfônica.

Para definir uma nova política de patrocínio, a companhia contratou a diretora Carla Camurati, ex-gestora do Theatro Municipal do Rio. Ela avalia o andamento e o impacto dos projetos patrocinados até agora e deve entregar um relatório em fevereiro.

PETROBRAS NÃO LANÇA SELEÇÃO PÚBLICA EM 2015 - Patrocínio via lei Rouanet caiu 31% no ano passado

A reportagem apurou que uma nova política só deve entrar em vigor em 2017, ainda que Camurati tenha dito que não foram definidos prazos.

A política de patrocínio encampava projetos de circulação de espetáculos de teatro e dança, manutenção de acervos históricos e museus, produção e distribuição audiovisual, de música e literatura.

A AAA/SP (Associação de Amigos do Arquivo do Estado de São Paulo), que capta recursos para manutenção de acervo do arquivo público paulista, por exemplo, é uma das que sente o efeito da redução. Dependente de editais públicos, a instituição começa o ano sem qualquer projeto em vista e com o menor corpo de funcionários em 29 anos de história –15 de um grupo que já foi de cem.

Em 2012, foi selecionada no edital da Petrobras com projeto para o catálogo e tratamento do arquivo de fotos, negativos e edições impressas do jornal "Última Hora". O projeto, que recebeu R$ 584 mil, termina em abril, após exposições do material em São Paulo, Rio e Porto Alegre.

PAPEL SOCIAL

Reinaldo Canato/UOL
*****EXCLUSIVO UOL ENTRETE****SAO PAULO -SP-BRASIL-16.12.2015 - Entre os dias 17 e 20 de dezembro, o Auditorio Ibirapuera Oscar Niemeyer finaliza a programacao do ano com o Grupo Corpo. A companhia de danca, que encerra a comemoracao de 40 anos de existencia com a temporada, apresenta as coreografias Onqoto, com trilha sonora de Ze Miguel Wisnik e Caetano Veloso, e Parabelo, de Wisnik e Tom Ze com coreografia de Rodrigo Pederneiras Foto Reinaldo Canato/UOL
A companhia da dança Grupo Corpo, uma das iniciativas afetadas por cortes da petroleira

"A Petrobras tem um papel social na cultura porque há muitas iniciativas, como a de manutenção de acervos, que não dão visibilidade de marca e atraem menos interesse de patrocinadores", disse Cesar Frezzato, diretor da AAA/SP.

Até 2012, a Petrobras liderou o ranking dos maiores patrocinadores estatais da cultura brasileira por meio da Lei Rouanet. No ano seguinte, quando a verba de patrocínio da petroleira caiu 56% –a R$ 39 milhões–, o BNDES assumiu o primeiro lugar.

Em 2015, a Petrobras foi para o quarto lugar da lista, com R$ 10,9 milhões –queda de 31% em relação aos R$ 15,8 milhões do ano anterior.

A seleção pública também já viveu tempos mais auspiciosos. Em 2006, chegou a contemplar 285 projetos.

O último grande edital foi justamente o de 2012, com investimentos de R$ 67 milhões em 33 projetos. Em 2014, a seleção foi restrita a Minas, e só 36 projetos foram contemplados, com R$ 10 milhões.

Além de cortar patrocínio via edital, a Petrobras reduz o fomento que não passa pelas leis de incentivo. O Grupo Corpo, por exemplo, teve corte de 21,9% em 2015 –saiu de R$ 4,1 milhões no ano anterior para R$ 3,2 milhões.

Segundo o diretor artístico Paulo Pederneiras, o grupo precisa de R$ 15 milhões anuais para cumprir a agenda de espetáculos no país e no exterior. "A gente sabe o estrago que é para a cultura de uma maneira geral a redução de patrocínio da Petrobras", disse.

Procurada, a Petrobras afirmou que seleção pública não tem periodicidade, e os valores dos patrocínios para 2016 ainda estão em negociação.


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