Folha de S. Paulo


Último clipe, com Bowie em cama de hospital, é revisto como despedida

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Um David Bowie frágil, que convulsiona e flutua numa cama de hospital, é o protagonista do último videoclipe da carreira do músico inglês, lançado apenas quatro dias antes de sua morte e revisto agora, sob o impacto da notícia, como uma espécie de sinal de que ele estava em seus momentos finais.

"Olha aqui, eu estou no céu", diz no vídeo de "Lazarus" o cantor, debilitado e com olhos vendados, enquanto se contorce, tentando se libertar da condição.

Bowie lutou muito reservadamente contra um câncer por 18 meses até este domingo (10). A morte foi anunciada pela família na madrugada desta segunda (11), em mensagem nas redes sociais.

Escute o álbum

Numa espécie de mensagem de despedida, voluntária ou não, ele fala sobre a batalha, que vinha sendo vencida pela doença, na música, uma das faixas do álbum "Blackstar", lançado na sexta (8).

"Eu tenho cicatrizes que não podem ser vistas (...) / Olha aqui, eu estou em perigo / Nada tenho a perder", diz a letra.

O clipe, colorido em tons frios, numa estética que destoa do estilo típico do artista, mostra ainda um outro Bowie, mais vívido, que dança completamente vestido de preto em frente a uma janela iluminada e lembra do "momento em que cheguei a Nova York / Eu estava vivendo como um rei".

Angustiado, ele também tenta escrever, como numa representação do esforço do artista para voltar a criar.

Este segundo personagem sai de cena lentamente, entra num armário escuro, enquanto o enfermo diz: "Oh, eu estarei livre".

O clipe é assinado por Johan Renck, conhecido por dirigir três episódios da série "Breaking Bad".

ALIENÍGENA NOSTÁLGICO

"Lazarus" foi apresentada em um musical homônimo, assinado por Bowie em coautoria com o dramaturgo Enda Walsh e encenado em Nova York no começo de dezembro.

A peça é uma releitura do filme "O Homem que Caiu na Terra", dirigido por Nicolas Roeg em 1976 e estrelado pelo artista.

Na história, o alienígena Newton, interpretado na peça por Michael Hall, está preso na Terra, sufocado pela nostalgia e por um amor interrompido. Ele deseja retomar sua vida no planeta desértico de onde veio e, impotente, afoga-se em gim para aliviar a claustrofobia.

Sombrio e com toques de jazz, o último álbum de Bowie, 25º de estúdio do músico, nasceu de cinco meses de trabalho isolado em sua casa, após os quais ele se reuniu com o produtor Tony Visconti e o baterista Zack Alford para gravar as canções.

Sempre misterioso, ele não fez campanha nem deu entrevistas para promover a obra, que tem como ilustração na capa apenas uma estrela negra num fundo branco, referência ao título do álbum.

O disco anterior, "The Next Day", foi lançado em março de 2013, após uma década de recolhimento.

RECLUSO

O 24º álbum foi recebido com surpresa por fãs já descrentes em um retorno do artista, que fez sua última apresentação ao vivo em 2006, em um evento beneficente em Nova York.

Bowie parecia ter abandonado as gravações e turnês desde 2004, quando sofreu um ataque cardíaco em pleno palco, na Alemanha.

Os anos seguintes foram de aparições esporádicas e silêncio —até 2013, não lançou nada novo. A reclusão era cercada por rumores sobre seu estado de saúde.

Em 2012, foi convidado a interpretar "Heroes" na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, e recusou —a canção foi usada como o hino extra-oficial da equipe olímpica britânica, conhecida como Team GB.

David Bowie


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