Folha de S. Paulo


Discos do início da carreira e do exílio de Chico Buarque são relançados

Quando "Chico Buarque de Hollanda" chegou às lojas, em 1966, "A Banda" já havia protagonizado um duelo nacional histórico. A canção vencedora do Festival da Música Popular Brasileira daquele ano -empatada com "Disparada", célebre na voz de Jair Rodrigues- se tornou o primeiro clássico que Chico marcaria na trajetória musical do país. Depois, seguiram-se faixas como "Apesar de Você" (1970), "Construção" (1971) e "Cálice" (1978).

O início dessa história volta às lojas, quase 50 anos depois, em um box de vinis relançado pela Polysom. Além do primeiro disco do músico carioca, inclui "Chico Buarque de Hollanda vol. 2" (1967), "Chico Buarque de Hollanda vol. 3" (1968) e, curiosamente, "Chico Buarque na Itália" (1969) -não exatamente um de seus trabalhos mais lembrados, mas interessante pelo seu contexto político.

Na época de seu lançamento, Chico exilava-se na Itália em meio a repressão da ditadura militar no Brasil.

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Capa do disco 'Chico Buarque de Hollanda vol. 3', de 1968, relançado agora pela Polysom ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Capa do disco 'Chico Buarque de Hollanda vol. 3', de 1968, relançado agora pela Polysom

O compositor, que fala italiano fluente -ele passou dois anos de sua infância no país com a família, quando seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, foi convidado a lecionar na Universidade de Roma-, tentou repetir seus sucessos em versões traduzidas pelo compositor Sergio Bardotti, autor de "Canzone per Te". Com exceção de "La Banda", porém, ele não teve o mesmo êxito por lá.

Uma parceria da Polysom com a gravadora Som Livre, que comprou a então RGE, a caixa não traz outros lançamentos do período, como "Morte e Vida Severina", musicalização do poema de João Cabral de Melo Neto, também de 1966, e "Chico Buarque de Hollanda vol. 4", de 1970, álbuns que fecham o ciclo do início da carreira de Chico.

Ambos os registros foram produzidos pela Philips. O último, gravado também durante o exílio, é definido por Chico como "um disco feito por necessidade". "Os outros três anteriores são desnecessários", diria mais tarde em entrevista à rádio Eldorado.

Para Ivan Vilela, professor de música popular brasileira da USP, essas obras mostram um compositor ainda jovem, autor de canções frugais como "Juca" e "Rita", mas que já apresenta músicas mais densas. É o que prova "Roda Viva", faixa do volume 3.

"Se você ouvir bem, vai reparar que a linguagem dele nesses primeiros discos ainda está muito presa à bossa nova", explica Vilela. Para ele, embora Chico seja o "maior cantautor do mundo", as composições do período inaugural foram feitas em cima dos cânones já presentes.

DIVISOR DE ÁGUAS

O divisor de águas na obra do músico, segundo o professor, viria com o álbum pós-exílio, "Construção", de 1971.

"A partir daí ele passa a compor de maneira muito particular", diz, sobre o disco que tem como arranjador o maestro Rogério Duprat, já em fase pós-"Tropicalia".

"Mais para frente, no álbum 'Meus Caros Amigos' [1976], ele já é um cara com pleno domínio da linguagem e de onde quer chegar."

Ao todo, os quatro vinis do box reúnem 48 músicas, entre elas "Pedro Pedreiro", "Noite dos Mascarados", "Retrato em Branco e Preto" e "Funeral de um Lavrador".

As capas dos LPs reproduzem as artes originais, assim como os áudios são respeitados em sua íntegra.

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