Folha de S. Paulo


Semana na TV tem filmes do 007, 'Jogos Vorazes' e Fritz Lang

Ok, o Japão já não é no cinema, nem de longe, o que foi. E ganhar o prêmio Kinema Junpo Best One não é o que era quando, no mesmo ano, concorriam uns dez caras geniais.

Ainda assim, não deixa de ser uma referência. E "Um Paraíso Havaiano" (2007, TV Brasil, 0h30) ganhou os prêmios de melhor filme e direção, este para Sang Il-Lee.

A trama se passa em 1965, quando uma cidade tem a economia arruinada, pois o país abandona energia baseada em suas minas de carvão. A tentativa é resgatar o lugar construindo um exótico centro havaiano. Resulta, aqui, em comédia.

Na região do trivial, mas nem tanto, o Paramount traz "Uma Mente Brilhante" (2001, 19h30), sobre o matemático John Nash, tão brilhante quanto paranoico. Ele ficou com o Nobel, enquanto o filme ficou com 4 Oscars, inclusive filme, direção (Ron Howard) e ator (Russell Crowe).

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Russel Crowe, em
Russel Crowe, em "Uma Mente Brilhante"

TERÇA-FEIRA (1º/12)

"007 Cassino Royale" (2006, TC Cult, 0h) é o filme que começa a definir os traços de Daniel Craig como novo James Bond.

O primeiro deles é o fato de ser o mais fitness dos 007 até aqui. Não é inteligente como Sean Connery, nem esperto como Roger Moore. Mas corre. Corre como nenhum outro. Não é um sedutor como todos os James Bond até aqui, mas um apaixonado.

Aqui, pela primeira vez desde 1964 um 007 se apaixona. Escolhe bem: Eva Green é uma beleza extraordinária mesmo, um monumento. Só que por ela nosso Bond sofrerá mais que Greta Garbo na "Dama das Camélias", enquanto enfrenta o poderoso e perverso Le Chiffre.

Seria só a partir de "Operação Skyfall", com o amigo Sam Mendes na direção, que o novo modelo se completaria: é um Bond crepuscular, como que um noivo da morte, que se sedimenta então. Operação que fez bem a 007, a Mendes e a Craig.

Greg Williams/Reuters
O ator Daniel Craig em cena de
O ator Daniel Craig em cena de "007: Cassino Royale"

QUARTA-FEIRA (2/12).

"Jogos Vorazes" (2012, Cinemax, 16h) é um filme estranho: mistura de futuro com Roma antiga, de Roma antiga com a Grécia do Minotauro.

Pode ser uma salada mitológica cujo ápice é a estranha direção de arte que nos remete ao mundo metálico em que a jovem Katniss se apresenta como voluntária a participar dessa mistura de "reality show" com filme de gladiador.

Pois bem: os "Jogos" (com suas várias sequências) viraram uma coqueluche adolescente. E talvez mais explicável, ou aceitável, que a recente coqueluche dos vampiros: é de um mundo sem clemência que se trata.

É nesse mundo que eles se preparam para entrar. E percebem (ou mais provavelmente intuem) que o outrora chamado capitalismo selvagem hoje é, em linhas gerais, o capitalismo mesmo. À parte isso, o filme é fraco.

Opções: "A Firma" (1993, Paramount, 14h45), ou o tcheco "A Pequena Loja da Rua Principal" (1965, TV Brasil, 0h15).

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Jennifer Lawrence em
Jennifer Lawrence em "Jogos Vorazes"

QUINTA-FEIRA (3/12)

O filão, bem conhecido, é o dos professores às voltas com alunos impossíveis, mas dispostos a demonstrar que esses adolescentes pobres necessitam, antes de tudo, ser compreendidos.

A professora de "Escritores da Liberdade" (2007, TC Touch, 22h) aqui é Hillary Swank. Sua antagonista, a inspetora (ou diretora, tanto faz) Imelda Stanton, para quem essa escola que busca integrar negros, latinos, americanos etc. é um equívoco conceitual criado para enlouquecê-la.

Hillary terá de lutar em dois frontes: o cultural e o burocrático, ao tentar impor suas ideias. Os alunos, afinal, não têm a menor disposição para aprender literatura. Mas ela não abandonará a luta fácil.

O filme é de Richard LaGrevenese, que foi roteirista de "As Pontes de Madison" e "O Pescador de Ilusões", entre outros. Portanto, para o bem e para o mal, os sentimentos dão o tom.

SEXTA-FEIRA (4/12)

Todo mundo acha, à primeira vista, que Fritz Lang teve de ceder ao produtor quando colocou a história do personagem de "Um Retrato de Mulher" (1944, TC Cult, 14h10) num sonho.

Lang diz que na verdade foi o inverso: ele teve de lutar para fazer com que todas as angústias vividas ali por Edward G. Robinson fossem um sonho. Na trama, ele é um respeitável professor que conhece a bela Joan Bennett, modelo de um quadro que viu recentemente.

De conhecê-la a apaixonar-se é um pulo. Daí a ser chantageado, outro. E isso será só o começo de seu tormento. É neste belo filme noir que Lang criará a cena angustiante, antológica, em que o velho professor tenta ocultar um cadáver.

Um desses belos momentos em que o mestre germânico demonstra que, em Hollywood, continuou tão bom quanto em seus tempos de Alemanha.


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