Folha de S. Paulo


CRÍTICA

M. Night Shyamalan revisita medo com sucesso no novo 'A Visita'

M. Night Shyamalan é um dos melhores artesãos do cinema americano contemporâneo –talvez o mais sofisticado da geração pós-Scorsese e Coppola.

No entanto, a qualidade de seus filmes sempre dependeu da velha e boa dramaturgia. Se ela ajudava, o resultado se aproximava da obra-prima, como em "O Sexto Sentido" (1999), "Corpo Fechado" (2000) e "A Vila" (2004).

Se atrapalhava, a sensação era de desperdício de talento, como em "Sinais" (2002), "A Dama na Água" (2006) e "Fim dos Tempos" (2008).

Nesses casos, nem o refinamento audiovisual do cineasta podia esconder a pobreza dramatúrgica e o artificialismo da virada na trama.

"A Visita", seu novo trabalho, é um caso totalmente à parte. Aqui, Shyamalan adota o conceito do "found footage". Ou seja, um filme construído a partir de (falsos) vídeos amadores gravados pelos próprios personagens.

Divulgação
Cena do filme
Peter McRobbie em cena de 'A Visita'

Ao abraçar esse formato, o cineasta precisou, de certa forma, abdicar de uma construção audiovisual mais sofisticada –o ponto mais forte de sua obra– para tentar emular (e tornar críveis) os vídeos feitos por amadores.

Por outro lado, a dramaturgia, que muitas vezes é seu ponto fraco, se mostra sólida o suficiente para manter "A Visita" em pé.

Na trama, os irmãos adolescentes Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) são mandados para a casa dos avós que nunca conheceram porque estes haviam brigado há muito tempo com a mãe dos garotos (Kathryn Hahn).

Com o desejo de se tornar cineasta, Becca aproveita a visita para fazer um vídeo sobre este primeiro encontro com os avós desconhecidos.

Altos e baixos assustadores da carreira do diretor M. Night Shyamalan

Ao chegarem, os garotos encontram dois velhinhos adoráveis (Deanna Dunagan e Peter McRobbie). Aos poucos, porém, eles se revelam seres cheios de manias.

O patriarca estabelece como regra que os adolescentes não saiam do quarto depois das nove e meia da noite. Mas eles acabam desobedecendo e presenciando comportamentos assustadores.

Por trás da trama, "A Visita" é, em primeiro lugar, um filme sobre o envelhecimento, visto pelos olhos da juventude (o que justifica a ideia do "found footage") –a princípio visto com humor e depois, progressivamente, com medo.

Nesse terreno delicado, Shyamalan encontra um belo equilíbrio entre comédia e terror e oferece uma virada de trama perfeitamente aceitável.

Em uma segunda camada, "A Visita" é também um filme sobre o cinema, que usa a ideia do "found footage" para discutir a construção narrativa, a relação do diretor com os personagens e os espectadores.

O problema do seu filme é ter três finais. A força do primeiro, incrivelmente impactante, é diluída pelos dois seguintes, um sentimental, outro engraçadinho. Ainda assim, Shyamalan nos entrega um "found footage" muito acima da média e seu melhor filme desde "A Vila".

A VISITA (The Visit)
DIREÇÃO M. Night Shyamalan
ELENCO Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan
PRODUÇÃO EUA, 2015, 14 anos
QUANDO estreia nesta quinta (26)


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