Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Trama de superação de 'Pauê' é fraca e está mais para autoajuda

O documentário "Pauê - O Passo de um Vencedor", de Fábio Cappellini e Alessandra Pereira, conta a história do jovem Pauê, vítima de um acidente grave, e do seu processo de superação.

Pauê, aliás, o surfista Paulo Eduardo Chieffi Aagaard, perdeu as duas pernas após ter sido atropelado por uma locomotiva.

Ele conseguiu superar o trauma com a ajuda de próteses e o amor dos amigos e da família. Com o tempo, passou a treinar e se tornou um triatleta, um grande vencedor.

Aceitação e superação, as duas belas lições que o personagem tem a nos passar com a sua história. Como ser contra algo assim?

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Créditos: Divulgação Legenda: cena do filme PAUE, OS PASSOS DE UM VENCEDOR ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O surfista Pauê, que perdeu as pernas em um acidente, é tema do documentário de Fábio Cappellini e Alessandra Pereira

É necessário então deixar uma coisa bem clara: uma história como essa pode até render um bom filme, mas, se não for pensada e estruturada como uma obra cinematográfica, as chances de ser um fiasco são enormes.

Porque um filme deve ser avaliado (pelo crítico, ao menos) não pela história que conta, mas pela maneira como conta sua história. O "quê" interessa bem menos que o "como". A forma que se adequa ou não ao conteúdo, discussão que já deveria até estar superada.

As escolhas relativas à "mise-en-scène", a preocupação com a sucessão de imagens, a estrutura narrativa, em suma, o específico cinematográfico deve ser considerado.

Do contrário, nos afastamos da crítica e viramos publicitários, palpiteiros ou alguma outra coisa.

E qual seria a estrutura deste filme? Basicamente, entrevistas com parentes, amigos, famosos como Gabriel O Pensador, médicos, outros jovens que tiveram membros amputados e o próprio Pauê. Todos contam o que aconteceu, formando uma espécie de genealogia do acidente e da superação.

PALESTRA MOTIVACIONAL

O longa se assemelha a um monte de coisas, menos cinema. Pode ser um vídeo institucional, uma peça de autoajuda, uma palestra motivacional com imagens ilustrativas ou até uma propaganda de banco, com o eventual apelo humanista.

A história de Pauê é obviamente bonita. O filme, por outro lado, é muito fraco. Passa inconscientemente a ideia de que cinema não é arte, mas apenas um veículo corriqueiro para mensagens e boas intenções.

PAUÊ â€“ O PASSO DE UM VENCEDOR
DIREÇÃO Fábio Campellini e Alessandra Pereira
PRODUÇÃO Brasil, 2013, 10 anos
QUANDO em cartaz


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