Folha de S. Paulo


crítica

História fantástica de Malala é força e limitação de documentário

A força e a limitação do documentário "Malala" estão em sua protagonista.

A história de vida da paquistanesa Malala Yousafzai é fantástica. Em uma região de seu país dominada pelo Talibã, ela decidiu continuar estudando na escola dirigida pelo pai –desafiando uma proibição do grupo extremista.

Foi baleada pelo Talibã, sobreviveu por muito pouco, mudou-se para a Inglaterra, iniciou uma cruzada mundial pela educação, sobretudo de meninas, tornou-se a mais jovem ganhadora do Nobel da Paz, aos 17 anos, em 2014.

No começo do filme, ressalta-se outro ingrediente incrível da história: seu pai a batizou em homenagem a Malalai, corajosa guerreira afegã.

Com esse currículo, fica difícil para o diretor americano Davis Guggenheim ("Uma Verdade Inconveniente") fugir da hagiografia, da biografia de uma santa precoce.

Ele até que tenta: mostra como Malala dá uns sopapos de brincadeira nos irmãos, como vai mal em algumas matérias, como se envergonha em comentários sobre rapazes, como se mostra ligeiramente desapontada por não ter levado o Nobel em 2013.

Mas a ingenuidade dessas "falhas" reforça a beatificação do personagem.

De certa forma, o conflito central de "Malala" foi resolvido antes da existência do filme: da educação/iluminação contra o terror/sombra. Escolher um lado não exige nenhum trabalho ao espectador.

Aos 18 anos de uma vida impoluta, Malala não parece disposta a revelar outros conflitos no documentário.

Ela é um enigma de bondade que o filme não consegue decifrar. Ao contrário de Malala, nós, espectadores, não somos santos.

MALALA
(HE NAMED ME MALALA)
DIREÇÃO Davis Guggenheim
PRODUÇÃO EUA, 2015, 10 anos
QUANDO em cartaz


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