Folha de S. Paulo


Falabella e Marisa Orth reencenam Almodóvar em versão musical

"'Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos' é um pernil na boca da Marisa Orth", comenta Miguel Falabella sobre a adaptação musical do filme de Pedro Almodóvar, que estreia neste sábado (14), em São Paulo, com direção do carioca. "Ela vai devorá-lo."

Marisa é Pepa, papel que foi de Carmen Maura no cinema, atriz que se descobre grávida. Ela é abandonada pelo amante, Ivan (Juan Alba), cuja ex-mulher, Lúcia (Totia Meireles), sai de um hospício e busca se vingar dele.

No meio desse melodrama rocambolesco, passado em dois dias de uma Madri dos anos 1980 e regado a histerias e calmantes, Candela (Helga Nemeczyk), amiga de Pepa, teme ser perseguida pela polícia. "Ela é aquela que se apaixonou por um terrorista. Quem nunca?", ri Marisa.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Sao Paulo, SP, Brasil. Data 10-11-2015. Espetaculo Mulheres a beira de um ataque de nervos. Atriz Marisa Orth. Teatro Procopio Ferreira. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
Marisa Orth (no centro, de azul), em 'Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos'

Para completar, Carlos (Daniel Torres), filho de Ivan, envolve-se na confusão quando sua sua noiva, Marisa (Carla Vazquez), bebe por engano um sonífero preparado por Pepa.

"Quase fiquei ofendida quando ele disse que essa peça era a minha cara", brinca Marisa, 52, sobre Falabella, 59, com quem acumula anos de trabalho lado a lado –como o casal Caco e Magda do humorístico "Sai de Baixo" (1996-2002).

"O filme do Almodóvar [de 1987] registra um período em que o drama e a comédia se unem. E foi ali que eu me criei, onde acho que sou boa. As atrizes da minha geração, Andrea Beltrão, Claudia Raia, Fernanda Torres, são assim, versáteis. A gente é foda."

Também registra uma visão feminista do cineasta espanhol. A busca incessante dessas mulheres pela atenção de Ivan, o homem idealizado, é "autoavacalhação", um modo de criticar a sociedade machista por meio do humor, avalia Marisa.

CORES DE ALMODÓVAR

A produção brasileira é baseada na montagem londrina, do início deste ano, que por sua vez é uma versão do espetáculo da Broadway, de 2010, de David Yazbek e Jeffrey Lane. Mas Falabella achou a adaptação inglesa "minimalista demais".

Resolveu restituir à trama as cores de Almodóvar. "O humor dele é muito mais próximo dos brasileiros." "Quando se fala de Almodóvar, se fala de tempero", continua Marisa. "É difícil para um gringo fazer uma feijoada. Nesse sentido, a gente tem mais autoridade para falar de Almodóvar. A gente acha as cenas de histeria normais."

Os penteados e as roupas espalhafatosos da década de 1980 se unem ao colorido do cineasta espanhol: "Eu quis passar para o palco essa latinidade no grafismo do cinema dele", afirma Falabella.

Também "quis fazer um espetáculo 'grandioso'". Uma estrutura com dois círculos giratórios concêntricos na base do palco ajuda a mover o cenário, que conta ainda com um Lada branco 1986, que faz as vezes do táxi que transporta essas mulheres por Madri.

As músicas de Yazbek passeiam por diversos ritmos latinos, da bossa nova ao mambo, do flamenco ao bolero.

"A música para mim foi a coisa mais difícil", afirma Totia, que tem no currículo uma série de musicais –atualmente também está em cartaz, no Rio, com "Nine". "As canções não têm um caminho óbvio, têm notas tortas."

MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS
QUANDO qui. e sex., às 21h, sáb., às 17h e 21h, dom., às 16h; de 14/11 a 20/12 e de 7/1 a 14/2/2016
ONDE Teatro Procópio Ferreira, r. Augusta, 2.823. tel. (11) 3083-4475
QUANTO R$ 50 a R$ 200
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


Endereço da página:

Links no texto: