Folha de S. Paulo


Allen Toussaint criou ponte entre jazz antigo de Nova Orleans e música pop

Patrick Semansky - 16.mai.2010/Efe
Allen Toussaint se apresenta em Nova Orleans em 2010
Allen Toussaint se apresenta em Nova Orleans em 2010

Um dos nomes mais importantes da música de Nova Orleans, o pianista, cantor, arranjador e produtor Allen Toussaint morreu na madrugada desta segunda-feira (10) em Madri, na Espanha, onde excursionava com seu quarteto. Ele tinha 77 anos.

Nascido em 14 de janeiro de 1938, o músico começou a tocar piano muito cedo. Ainda adolescente, fez sua estreia profissional com a banda de soul music The Flamingos, e logo virou um dos músicos de estúdio mais procurados de New Orleans, gravando com ícones do rock como Fats Domino. Em 1958, lançou seu primeiro disco solo, com o pseudônimo de Tousan.

Na década de 1960, foi o principal compositor da gravadora Mint Records, escrevendo hits para Lee Dorsey ("Ya Ya"), Jessie Hill ("Ooh Poo Pah Doo"), Ernie K-Doe ("Mother-in-Law") e outros. Gravou discos com Aaron Neville e Irma Thomas, além de criar uma parceria duradoura com a lendária banda de soul-funk The Meters.

Nos anos 1970, abriu um estúdio em Nova Orleans, onde gravou com nomes importantes da música pop como Paul McCartney & Wings, Sandy Denny, Dr. John, Patti Labelle, Joe Cocker e John Mayall. Também fez arranjos de sopros em discos da The Band. Muita gente regravou músicas de Toussaint: Rolling Stones ("Fortune Teller"), Herman's Hermits ("A Certain Girl") e Glen Campbell ("Southern Nights"), entre outros.

Em 2005, depois da passagem devastadora do Furacão Katrina por Nova Orleans, matando mais de 1.200 pessoas e destruindo parte da cidade, o músico foi uma figura fundamental no processo de recuperação, fazendo shows beneficentes para as vítimas. Seu disco "The River in Reverse" (2006), em parceria com Elvis Costello, foi inspirado pelo desastre.

A importância de Allen Toussaint para a música pop dos últimos 50 anos é imensa. Influenciado pelo jazz que ouvia desde pequeno —em especial o de seus conterrâneos Professor Longhair e Louis Armstrong—, ele ajudou a criar "o" som do rhythm & blues de Nova Orleans, uma música funkeada, festiva e alegre, mas que nunca esquecia sua origem nas lamentações do blues.

Toussaint fez a ponte entre o jazz antigo de Nova Orleans e o pop-rock, influenciando Rolling Stones, The Band, Paul Simon e Joe Cocker, entre muitos outros. Além de músico e arranjador extraordinário, ele era considerado um ás de estúdio, o que explica a quantidade de grandes artistas que o procuraram para gravar.

Com sua morte, a soul music e o rhythm & blues perdem um de seus nomes mais queridos e influentes.

ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor de "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)


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