Folha de S. Paulo


'Hogwarts' da música eletro reúne artistas internacionais em Paris

Techno, hip-hop, future-soul. Música de pista ou experimental? A 17ª edição do Red Bull Music Academy quer mesmo é confundir. O evento, dividido em duas fases, reúne 61 artistas do mundo todo no conservatório La Gaîté Lyrique, em Paris, até o dia 27 de novembro, para colaborar entre si.

A Folha acompanhou dois dias na rotina dos alunos. Eis alguns momentos marcantes.

Hogwarts

"É um lance meio Harry Potter, meio Hogwarts." Assim Luisa Puterman define a experiência. Fã de Brian Eno e John Cage, a paulistana une música eletrônica com arranjos folk. Ela preencheu um formulário on-line e foi um dos quatro brasileiros selecionados. "Eles são bastante criteriosos." Foram 4.500 inscritos.

Na madrugada

"Um dos momentos mais incríveis que eu tive aqui foi com o Sebastiano Zanasi, da África do Sul. Eram 5h, e eu estava tocando 'viajandona' no estúdio. Ele chegou meio cabisbaixo"¦ 'Posso ouvir?'. Sentou no sintetizador e disse: 'Ah, estou meio triste porque meu cachorro acabou de morrer'. E aí a gente fez uma puta 'jam'!", disse Puterman.

Ação entre amigos

O ritmo é intenso nos estúdios espalhados pelo conservatório. O future-soul do paulista DESAMPA impressionou o produtor John Pope, aluno das Filipinas que o convidou para uma parceria. Enquanto Pope testava notas de baixo no teclado, Jade Statues, do Canadá, sugeria alterações nos timbres da faixa, que pode entrar na coletânea que a Red Bull organiza no evento.

Mestre Jedi

"Não importa se você toca dois acordes de forma desleixada. O segredo é como você se sente ao tocar." O discurso estilo Jedi era do produtor americano Craig Leon, mente por trás de hits do Blondie e do Ramones, em palestra que terminou com "jam" improvisada.

Mulheres-máquina

O "girl power" estava presente nas paredes do La Gaîté Lyrique, onde ilustrações criadas pela francesa Caroline Andrieu homenageavam pioneiras na criação da música eletrônica, como a americana Suzanne Ciani.

Floating Points

As noites eram agitadas. Na tradicional casa de jazz New Morning, a banda do produtor Sam Sheppard (Floating Points) criou uma sinfonia cósmica condensando referências que passavam por krautrock (bandas experimentais da Alemanha dos anos 1960-70), jazz e house. O ápice foi o solo inspirado do saxofonista. Quem testemunhou saiu de boca aberta.

Black metal e violinos

Na terça (3), no porão do La Maroquinerie, o baterista do Liturgy parecia tocar na velocidade da luz. A banda de black metal do Brooklyn abriu para o projeto musical do saxofonista americano Colin Steson com a violinista canadense Sarah Neulfeld (ex-Arcade Fire). Steson usou um "sax alienígena", acoplado a seis microfones que geravam ruídos à la Trent Reznor.

Simpatia

Para quem é obcecado por música eletrônica, vale conferir a loja La Source. O catálogo vai de Actress a Jean Michel Jarre. Com mais variedade, a Crocodisc, além do acervo gigantesco e nome simpático, conta com atendentes agradáveis (raridade em Paris).

O jornalista e designer ALEX KIDD viajou a convite da Red Bull


Endereço da página:

Links no texto: