Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Spectre' acerta com Bond realista porque não ignora o legado do 007

Trailer de "007 Contra Spectre"

O grande mérito de "007 Contra Spectre" é embutir o tanto quanto é possível de credibilidade a um personagem muitas vezes tido como datado, sem ignorar os chavões que marcam o charme da saga. O 24º filme oficial da bilionária franquia de James Bond estreia nesta quinta-feira (5).

Os filmes de Daniel Craig, sexto ator a trajar o smoking de Bond, sempre se equilibraram na corda bamba da dualidade realismo versus legado. Se o anterior, "007 - Operação Skyfall" (2012), colheu elogios pelo seu tom severo, falhou ao ignorar algumas das cláusulas pétreas de 007 –a de não ter uma Bond girl notável, por exemplo.

Do antecessor, "007 Contra Spectre" retoma o clima soturno e a mão firme de Sam Mendes, também diretor de "Skyfall". E recupera também os tais ingredientes do Bond clássico –a começar por reintroduzir na trama a organização criminosa Spectre, ausente desde "007 - Os Diamantes São Eternos" (1971), último dos longas oficiais protagonizados por Sean Connery.

BOND PRÓ-SNOWDEN

É um filme pós-Edward Snowden: James Bond segue o rastro do grupo terrorista comandado por Oberhauser (Christoph Waltz).

Já M, chefe de 007, luta para manter o serviço de agentes secretos diante da iminência de serem substituídos por um sistema de vigilância que passa por cima de liberdades civis. Para o jornal inglês "The Guardian", é um filme "pró-Snowden".

Mendes tem êxito em retratar a Spectre da forma mais verossímil que se pode dentro de um universo como o de Bond: o vilão vivido por Waltz é sádico como se exige, mas não incorre nos exageros dos inimigos clássicos e que hoje seriam risíveis: não aniquila oponentes em lagoas habitadas por piranhas ou tubarões.

Numa trama que conecta as pontas soltas dos três filmes anteriores protagonizados por Craig, o vilão Oberhauser se mostra o "responsável por toda a dor" do agente

A francesa Léa Seydoux ("Azul É a Cor Mais Quente") interpreta Madeleine Swann, filha de um inimigo do espião e a mais memorável Bond girl desde a passagem da atriz Eva Green por "007 - Cassino Royale" (2006).

Madeleine sabe manejar uma arma, se impõe, recupera uma tradição de mulheres que batem de frente com James Bond, caso de Pussy Galore de "007 Contra Goldfinger" (1964) e da agente Anya Amasova de "007- O Espião que me Amava" (1977).

Outro ponto forte do novo filme é dar mais protagonismo aos coadjuvantes de sempre, coisa que já havia começado no longa anterior.

Na pele do chefe do serviço secreto, M, Ralph Fiennes tem uma tarefa que vai muito além do que só passar a missão a seu agente com licença para matar. Mesmo Q, hoje mais um hacker do que o cientista das engenhocas malucas dos filmes clássicos, ganha mais minutos de tela e importância na história.

"Spectre" falha quando incorre no humor. As tiradas engraçadinhas de Craig, no meio de uma perseguição de carros, lembram os piores momentos dos filmes protagonizados por Roger Moore, o mais fanfarrão dos Bonds.

Christoph Waltz faz um inimigo convincente, mas perde para o psicopata de olhar hipnótico vivido por Javier Bardem em "Skyfall".

007 CONTRA SPECTRE (Spectre)
DIREÇÃO Sam Mendes
ELENCO Daniel Craig, Christoph Waltz, Léa Seydoux e Ralph Fiennes
PRODUÇÃO Reino Unido, EUA, 2015, 14 anos
QUANDO estreia nesta quinta (5)

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Editoria de Arte/Folhapress
007 - As Bond girls
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