Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Premiado em Cannes, 'A Ovelha Negra' mescla prestígio e diversão

O islandês "A Ovelha Negra" foi ovacionado por dez minutos após a primeira projeção no Festival de Cannes 2015 e ganhou o prêmio principal da mostra Um Certo Olhar.

A princípio, a recepção soa estranhamente calorosa para um filme de cenário gélido, sobre dois irmãos que criam ovelhas em fazendas vizinhas e que não se falam há 40 anos.

Ao final, porém, o motivo da ovação fica claro: o diretor Grímur Hákonarson chegou a um raro equilíbrio entre o que podemos chamar de uma obra de prestígio, apropriado para festivais, e um filme de entretenimento, capaz de agradar um público amplo.

Quem se interessa pelo primeiro tipo encontrará uma obra de ritmo lento, poucos diálogos, longos planos fixos, que por vezes se aproxima do documental na observação da rotina da criação de ovelhas.

Divulgação
filme
Cena do longa islandês "A Ovelha Negra"

E quem gosta do segundo tipo terá um filme sobre rivalidade fraterna que alterna humor seco e drama intenso, com personagens e situações ligeiramente pitorescas.

O motivo da briga entre os irmãos Gummi (Sigurdur Sigurjónsson) e Kiddi (Theodór Júlíusson) nunca é esclarecido, um segredo que joga a favor do mistério do filme.

Eles dedicam-se à criação de uma longeva e premiada linhagem de ovelhas –ao ponto da zoomorfização, tornando-se semelhantes a carneiros, com seus longos cabelos e barbas brancas.

Quando precisam se comunicar, o primeiro manda bilhetes por seu cachorro, o segundo responde com grunhidos, gritos e até tiros.

O conflito irrompe quando Gummi descobre que um dos animais de Kiddi tem uma doença letal e contagiosa, e as autoridades mandam sacrificar os rebanhos da região.

Enquanto os outros criadores desistem de lutar, o pacato Gummi e o bélico Kiddi decidem resistir até seus limites, cada qual a seu modo, levando a um final catártico.

A resolução –aberta, manipuladora e tocante– é uma prova do delicado balanço que Grímur Hákonarson alcançou em "A Ovelha Negra".

Ao abordar de forma minimalista esse drama familiar, o cineasta islandês conseguiu ainda criar uma fábula sobre o isolamento e a resistência de um pequeno país insular perdido no Atlântico Norte.

A OVELHA NEGRA (Hrútar)
DIREÇÃO Grímur Hákonarson
PRODUÇÃO Islândia, 2015
MOSTRA sáb. (31), às 19h30 (CineSesc); dom. (1º/11), às 13h30 (Espaço Itaú - Frei Caneca); qua. (4/11), às 21h30 (Espaço Itaú - Frei Caneca)


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