Folha de S. Paulo


Alzheimer e física quântica guiam a peça 'Pergunte ao Tempo'

Já percebeu que todo mundo tem uma cartomante incrível em Santo André? Quem faz a pergunta é Otávio Martins, 45, autor e diretor da peça "Pergunte ao Tempo", que está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil.

Pergunta nonsense? Ela soa apenas como uma questão fora do lugar para ilustrar uma montagem que, de forma bem resumida, fala sobre o hábito de projetar a felicidade no passado e no futuro. "Quem procura uma cartomante está querendo que ela diga: 'Você vai ser feliz, não se preocupe'", diz o artista.

A partir da premissa, a peça retrata o encontro de um só personagem estilhaçado temporalmente em três: com 21 anos (Giovani Tozi), 40 (Guta Ruiz) e 70 (Luiz Damasceno). O reencontro de suas versões jovem, madura e velha dá margem a uma revisão de fatos e sensações marcantes de uma vida prestes a chegar ao fim.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Sao Paulo, SP, Brasil. Data 19-10-2015. Espetaculo Pergunte ao Tempo. Atores Giovani Tozi (deitado)Guta Ruiz e Luiz Damasceno (bermudas). Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
Giovani Tozi (deitado), Guta Ruiz e Luiz Damasceno em "Pergunte ao Tempo"

O empenho de Martins, ele prossegue, está também em retratar a percepção do tempo por quem passa pelo mal de Alzheimer. Seu pai, morto no início deste ano, fora diagnosticado em 2009, e o autor começou a fazer anotações.

Os deslocamentos de noção temporal "eram claros" na expressão do paciente, um ferroviário aposentado –colecionador de objetos antigos e brinquedos. "Principalmente nos momentos em que parecia ausente", conta. "De repente, meu pai não estava mais ali. E eu percebia que, para ele, quem não estava mais ali era eu; ele começava a conversar com um primo."

EXPERIMENTAL

"Pergunte ao Tempo" tem viés experimental. Além do traço autobiográfico, leva ao palco questões relacionadas à física quântica (que o autor estuda "por hobby") e também questionamentos sobre a existência de Deus.

Em boa parte da peça, a luz é executada pelos próprios atores com lanternas que acendem e apagam com um clique. Forma-se um jogo: um personagem ilumina o outro, como se o facho de luz os permitissem atravessar o tempo.

Ator por formação, integrante da Companhia do Latão nos anos 1990, Martins dedica-se cada vez mais a escrita e direção. Um de seus espetáculos mais recentes, "Caros Ouvintes", em cartaz há quase dois anos, cumpre temporada no teatro Raul Cortez e foi visto por cerca de 100 mil pessoas, segundo Martins.

PERGUNTE AO TEMPO
QUANDO seg. e qua., às 20h, até 16/12
ONDE CCBB, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651
QUANTO R$ 10; 14 anos


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