Folha de S. Paulo


Luiz Cláudio foca tecidos luxuosos em coleção de inverno inspirada em filme

O desfile da Apartamento 03 apresentado nesta quarta-feira (21), no quarto dia de São Paulo Fashion Week, é, mais do que visual, sensorial.

Só tocando nas peças criadas por Luiz Cláudio é possível entender a beleza de seu inverno 2016, inspirado no filme Orlando (1992), de Sally Porter. O longa estrelado por Tilda Swinton conta a história de um homem que é transformado em uma mulher do dia pra noite perdendo, assim, todos seus poderes concedidos pela Rainha Elizabeth I em seu leito de morte.

"Comecei a pensar na coleção quando viajei a Londres, depois do meu desfile de verão, e vi em uma TV de anúncio o trailer desse filme. Imaginei Orlando vindo ao meu ateliê, um dia de homem e, no próximo, de mulher", conta Luiz Cláudio no backstage. "O que ele vestiria?"

Apesar do ponto de partida, as peças em nada remetem à androginia ou tem formas sem gênero. Muito pelo contrário. As cinturas são marcadas com faixas que amarram robes de seda que não merecem ser mantidas dentro do quarto, combinadas a calças amplas na mesma padronagem. Tudo feminino e luxuoso.

A silhueta é alongada, tanto nos vestidos mídi de decotes generosos –que em nada parecem vulgares exatamente pela forma da peça– até o colete preto bordado que vai quase até o pé.

O trabalho do estilista mineiro merece ser visto de perto pela precisão da técnica colocada em cada detalhe. Desde o vestido preto mídi, que tinha correntes envoltas por uma organza e bordadas ao lado de canutilhos, em um trabalho feito à mão que durou vinte e cinco dias, até o top que parecia de pelúcia mas era, na verdade, seda desfiada e escovada.

Destaque também para as calças cenoura e clochard em cetim duchese combinadas a capinhas encurtadas totalmente bordadas em um trabalho que, novamente, fica mais rico com o toque.

O topete rockabilly criado por Robert Estevão dava o toque masculino à mulher idealizada pela Apartamento 03.

"Me impressiona o fato de que, em 1928, Virginia Woolf tinha mais liberdade para falar de temas como esse do que temos hoje, em um mundo tão conservador", declara, lembrando do rebuliço que a capa de Caitlyn Jenner na "Vanity Fair" causou, coincidentemente na mesma data da viagem que inspirou seu inverno.


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