Folha de S. Paulo


DEPOIMENTO

Miguel Falabella: Yoná Magalhães foi um gatilho de fantasia

Sempre que encontrava a Yoná, pedia aplausos e dizia: "Yoná, the legend! A lenda!". Ela morria de rir.

Quando assinei primeiro contrato na Globo, em 1980, lembro que não tinha um produto, mas ia fazer uma novela, "Sol de Verão". Fiquei contratado algum tempo, esperando para gravar, e certo dia fui almoçar e a vi sentada numa mesa. Nunca vou me esquecer dessa sensação de ter me sentado no mesmo restaurante que ela, olhando de longe a Yoná e dizendo: "Meu Deus, estou almoçando ao lado de Yoná Magalhães".

Meu pai era completamente apaixonado, achava que ela era uma beleza. Depois, tive a oportunidade de trabalhar com a Yoná, era encantadora, delicada, uma dama. A pessoa mais na dela que já conheci, mais tranquila. Era a antiestrela por excelência. Curiosamente, dizem que ela era estrelíssima nos áureos tempos... Mas nunca vi uma atitude dela assim, de estrelato.

Era uma mulher de grande espiritualidade, profunda espiritualidade. Ela meditava, era uma mulher muito preocupada com o espírito, uma pessoa muito tranquila. Você nem percebia quando a Yoná estava na sala dos atores. Ficava em um canto, lendo, e se você quisesse ter uma conversa, aí, sim, ela conversava.

Foi uma colega muito querida e, sem dúvida alguma, um pilar da televisão brasileira. Uma deusa, uma diva.Yoná estava na minha infância, nas novelas de Gloria Magadan [cubana, uma das primeiras autoras de telenovelas no Brasil]. Nos delírios de Magadan —nas Venezas, na Índia—, ela era absoluta.

Para a minha geração, ela foi um gatilho de fantasia. Imagina, para um menino da ilha do Governador que, de repente, vivia uma aventura na Veneza dos Doges? Era uma coisa inacreditável e Yoná, a estrela. Hoje em dia, todo mundo sabe que gravavam aquilo dentro do Jardim Botânico, em um barco, com os contrarregras jogando água.

Foi uma pessoa muito importante não só na formação do menino telespectador. Eu tenho uma ligação anterior com ela, por causa do amor do meu pai por ela. Era um fã absoluto. Dizia: "Uma beleza de mulher".

MIGUEL FALABELLA ator, diretor e dramaturgo, dirigiu Yoná Magalhães na peça "A Partilha" e escreveu uma das últimas novelas da atriz, "Negócio da China" (2008)


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