"A diferença em relação aos mais velhos é de dez anos e 80 centímetros", diz o jurado Erick Jacquin, do "MasterChef" (Band), que volta nesta terça-feira (20) com cozinheiros mirins submetidos a pressão e provas de adulto.
Para quem lida com minichefs fora da TV, não é bem assim. "Adultos já se machucam por não prestarem atenção, imagine crianças", diz Sandra Ande, que há cinco anos dá aulas infantis de culinária e não permite utensílios perigosos para alunos menores de 13 anos.
Facas e fogo não serão proibidos na versão "kids" do reality show. "Se cortar ou se queimar faz parte", releva o chef Henrique Fogaça. Os competidores, todos entre 9 e 13 anos, tiveram aulas de segurança com culinaristas e são acompanhados por equipes de apoio e bombeiros.
É assim também nos EUA, Argentina, Austrália e outros países que exibem a competição infantil. Repercutiu no início deste ano a cena do programa americano em que Kayla Mitchell, 11, vai às lágrimas ao cortar os dedos durante uma prova. Ela foi rapidamente atendida por uma equipe médica.
No Brasil, mais de 3.000 aspirantes a chef se inscreveram na disputa, que estreia pouco mais de um mês depois do fim da segunda temporada do reality com adultos.
Após testes e atividades em grupo, foram selecionados 20 pequenos gênios da cozinha, que concorrerão, entre outros prêmios, a uma viagem à Disney e um curso de culinária.
Capeletti in brodo e javali flambado, receitas consideradas impossíveis por muitos cozinheiros crescidos, nascem da destreza das mãozinhas e alimentam planos ambiciosos. "Quero ser cozinheiro quando crescer. Mas, se não der, quero ser presidente", diz Johnny, 10.
"Se essas crianças convivem com a cozinha, têm sim capacidade de preparar pratos complexos. Tudo depende do acesso", afirma Andrea França, sócia da escola infantil de gastronomia Minichefs.
PRESSÃO
Se um corte ou outro no dedinho é normal, na opinião de Fogaça, feridas emocionais devem ser minimizadas. Uma equipe de apoio psicológico tem a missão de evitar pesadelos com os jurados.
Jacquin, Fogaça e Paola Carosella também aparecerão em versões mais "fofas". Ana Paula não fará sua tradicional contagem regressiva.
Mesmo assim, "'MasterChef' não é uma aula de culinária, é um show de talentos, em que pessoas tentam ganhar", admite Paola.
"Na nossa cultura, a palavra 'perdedor' é muito pesada. O resultado da competição pode deixar marcas nas crianças", avalia a psicopedagoga Neide Noffs. "É importante que, previamente, elas se sintam ganhadoras."
Na versão júnior, eliminados ganharão prêmios de consolação e levarão para casa o avental do reality. Além disso, a produção mudou as regras para que dois participantes saiam por semana. "Assim, um apoia a outro", explica Ana Paula.
Conforme o Ministério Público do Trabalho, crianças só podem participar de atrações na TV com autorização de um juiz e carga horária compatível com os estudos. A Band afirma ter cumprido todas os requisitos legais. As gravações, à tarde, duram de quatro a cinco horas.