Folha de S. Paulo


'Ex-Machina, 'Humans' e 'Mr. Robot' criam nova onda de filmes sobre robôs

Resistir é inútil: neste ano, os invasores robóticos parecem ter chegado para ficar.

É verdade que histórias em que criaturas de cérebro eletrônico confrontam seus criadores humanos sempre foram populares em livros e filmes de ficção científica (leia abaixo), mas nos últimos meses o gênero ganhou fôlego renovado no cinema e na TV.

Primeiro foi a vez do filme "Ex-Machina: Instinto Artificial" (sem previsão de estreia no Brasil), thriller filosófico escrito e dirigido por Alex Garland no qual um bilionário da internet convida um funcionário de sua empresa para ajudá-lo a determinar se a robô que ele criou tem consciência similar à humana.

Neste mês, estreou no Brasil, no canal AMC, a série "Humans", coprodução do Reino Unido e dos Estados Unidos que retrata o que acontece quando androides fisicamente indistinguíveis de humanos invadem o mercado de trabalho mundial –e também começam a apresentar autoconsciência e emoções "de gente", o que não estava nos planos das empresas que os comercializam.

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Créditos: Divulgação Legenda: Cena do filme
Cena do filme "Ex Machina"

O terceiro e mais interessante exemplar da lista tem como protagonista um robô "metafórico", digamos. Em "Mr. Robot", série americana que chega por aqui pelo canal Space, o hacker Elliot (Rami Malek), com dificuldades de interação social tão grandes quanto as de um robô, é recrutado por Mr. Robot, um ativista virtual, para atacar o sistema financeiro mundial e apagar todos os registros de dívidas do planeta.

As tramas têm em comum a maneira surpreendentemente madura como lidam com temas científicos (leia na página C4). Além disso, estão entre as primeiras histórias sobre robôs que têm como cerne a ubiquidade da internet e das redes sociais.

Em "Ex-Machina", o criador da robô consciente Ava só consegue ensiná-la a reconhecer expressões faciais humanas hackeando as câmaras de celulares do mundo todo –a "mente" da autômata na verdade se baseia nos dados de buscadores on-line.

E o ciberativismo de Elliot em "Mr. Robot" depende da contínua bisbilhotice das redes sociais alheias. Afinal de contas, raciocina ele, um sujeito que, por exemplo, curtiu a página da autobiografia de George W. Bush não pode ser boa gente, certo?

MUITO SEXO

A nova safra de tramas com protagonistas robóticos ainda não conseguiu se desvencilhar de velhas obsessões ligadas ao tema. Talvez, previsivelmente, o sexo entre humanos e máquinas humanoides esteja no topo da lista.

Retratar androides como objetos sexuais é uma marca do gênero pelo menos desde o filme "Blade Runner" (1982).

Na série britânico-americana "Humans", a maioria dos synths (os robôs quase humanos da trama) desempenha funções simples em fábricas, fazendas ou no lar, mas vários de seus donos não resistem a levá-los para a cama –sem falar na existência de "bordéis robóticos".

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Rami Malek em cena de
Rami Malek em cena de "Mr. Robot"

Já no filme "Ex Machina", a capacidade de despertar o interesse sexual de homens de carne e osso é um dos elementos-chave usados para determinar se a robô Ava (a sueca Alicia Vikander) possui uma mente similar à humana.

Apesar do recurso a clichês, as novas produções se saem bem na maneira densa como abordam temas científicos (o que não tem sido o forte da ficção nos últimos anos).

Quem assiste a "Ex Machina", por exemplo, é brindado com explicações razoavelmente precisas e claras de pontos-chave da pesquisa sobre inteligência artificial e origens da consciência, a começar pelo teste de Turing, proposto pelo matemático britânico Alan Turing, em 1950.

Segundo ele, se uma máquina é capaz de conversar com um ser humano com naturalidade, é sinal de que possui capacidades mentais indistinguíveis das nossas.

Em "Humans", é central o conceito da Singularidade, proposto por futurologistas como o americano Ray Kurzweil. A ideia é que a aceleração ininterrupta da capacidade de processamento de dados dos computadores é inevitável e vai produzir máquinas com poderes mentais superiores aos dos humanos.

Tais máquinas se tornariam capazes de melhorar conscientemente seu próprio desempenho, gerando avanços tecnológicos velozes e tornando a humanidade obsoleta.

Vale notar que, apesar do avanço da ciência da computação e das descobertas sobre o funcionamento do cérebro, estamos muito longe de criar computadores tão espertos e versáteis quanto um cão.

Ainda não se sabe se a questão é apenas aumentar a velocidade de processamento de dados ou se é mais profunda e depende de uma arquitetura específica do "cérebro" robótico.

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