Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Realista, retrato de viciados lembra criações dos anos 70

Dentro do cinema independente americano existem várias correntes, das quais uma das mais frutíferas, embora com filmes superestimados, seja a do "mumblecore" (produções baratas, rodadas em digital com discutível influência da nouvelle vague).

Numa linha semelhante, embora menos publicitária, estão os irmãos Ben e Joshua Safdie, nova-iorquinos que iniciaram a carreira em meados da década passada.

Com o primeiro longa, "Go Get Some Rosemary", chamaram a atenção da crítica internacional e começaram a acumular prêmios (Indie Lisboa e Independent Spirit Awards, entre outros).

"Amor, Drogas e Nova York", o terceiro longa dos irmãos, é baseado no livro "Mad Love in New York", de Arielle Holmes, um relato autobiográfico de sua descida ao inferno das drogas e das perambulações desesperadas pelas ruas de Nova York.

Divulgação
Fotos: Divulgação Legenda: Cena do filme
Arielle Holmes e Buddy Duress em "Amor, Drogas e Nova York"

A própria Arielle faz com impressionante garra o papel principal, com o nome mudado para Harley. Contracena com Caleb Landry Jones, o ator mais conhecido de todo o elenco ("Rainha e País"). Caleb interpreta Ilya, o namorado de Harley.

Visualmente, o filme lembra mais uma produção dos anos 1970 do que o cinema atual. Já no início, vemos Harley e Ilya se beijando com um som eletrônico experimental de fundo. Remete ao Antonioni de "Zabriskie Point" (1970).

Logo depois, passamos a acompanhar a vida de Harley e Ilya como viciados em heroína, seus encontros com traficantes, a disputa pelo amor de Harley e os problemas com autoridades.

A partir desse ponto, o filme adquire um tom mais duro, por vezes até desagradável, e remete a duas outras obras importantes dos anos 1970.

A primeira é "Ciao! Manhattan" (1972), de John Palmer e David Weisman, longa semi-documental e biográfico que acompanha primeiro os anos de glória da modelo e atriz Edie Sedgwick, enquanto atuava na Factory de Andy Warhol, e, depois, já entregue às drogas, na casa dos pais em Santa Mônica, antes de morrer.

A segunda conexão é mais direta e tocante: "Os Viciados" (1971), de Jerry Schatzberg, com Al Pacino em seu primeiro papel importante, o de um viciado em heroína.

Este último filme tem cenas fortes e realistas de consumo da droga, mais ainda que as de "Amor, Drogas e Nova York", que ainda assim tem sua força.

AMOR, DROGAS E NOVA YORK (Heaven Knows What)
DIREÇÃO Ben e Joshua Safdie
ELENCO Arielle Holmes, Buddy Duress, Ron Braunstein
PRODUÇÃO EUA, 2014, 12 anos
QUANDO estreia nesta quinta (15)


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