Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Enigmático, 'Amor' de Michael Haneke é boa pedida na TV nesta terça

SEGUNDA-FEIRA (12)

É uma pena que "A Mulher de Todos" (1969, TV Brasil, 0h30) seja o segundo filme de Rogério Sganzerla e, já, um final de ciclo: havia ali a tentativa de introduzir um cinema que fosse ao mesmo tempo comercial e questionador, barato e de alta linguagem.

Talvez não haja muita história a resumir: acompanhamos as aventuras amorosas de Angela Carne e Osso (Helena Ignez). Cada aventura é manifestação de um espírito livre, pouco afeito a aceitar a repressão. O desafio e o humor andavam juntos, diga-se.

Como esperar que, com a ditadura a toda, como aconteceu desde 1969, um tal tipo de proposta fosse prosseguir? Filme que se abre para uma frustração que não diz respeito apenas a esse cineasta, mas à dificuldade de implantar uma cinematografia brasileira.

Na falta,há um grande que o cinema americano, tão à vontade no mundo, produziu: "O Homem que Matou o Facínora" (1962, TC Cult, 22h), de John Ford.

Divulgação
ORG XMIT: ERT123 ERT123 CANNES (FRANCIA), 10/01/2013.- Fotograma sin fechar facilitado por la organización del Festival de Cine de Cannes el 20 de mayo de 2012 y reemitida hoy, jueves 10 de enero de 2013, que muestra a la actriz francesa Emmanuelle Riva en una escena de la película
Cena de "Amor", longa dirigido por Michael Haneke

TERÇA-FEIRA (13)

"Amor" (2012, Arte1, 0h) é um filme enigmático. Ali estão dois idosos, Trintignant e Emmanuelle Riva (ou Georges e Anne) que vivem um para o outro, amparam-se, cuidam-se.

É quase impossível deixar de indagar: desde quando as coisas são assim? Trata-se, é evidente, de dois solitários, mas por que seria assim? Os amigos já morreram ou nunca tiveram amigos?

Existe algo de bem francês nesse casal: a autossuficiência, as ligações familiares sumárias etc. É certo que, por uma vez, Michael Haneke trabalha mais com as afinidades, com aquilo que aproxima as pessoas do que com o que as distancia.

Mesmo assim, ele nos deixa curiosos sobre quem foram essas pessoas. Sabemos apenas quem são: pessoas que se aproximam do fim. Existe algo de mórbido, sempre, em Haneke.

Numa boa semana do cinema brasileiro, um policial de primeira linha: "O Assalto ao Trem Pagador" (1962, Canal Brasil, 19h).

QUARTA-FEIRA (14)

Logo que se abre, temos um cavalo que atravessa, veloz, a paisagem. E depois uma mulher que desce e se dirige a uma casa em ruínas. Ali ela encontra um homem que a espera. E a dúvida: ele foge ou vai ao ataque? Ela pode acompanhá-lo ou não?

Assim começa "Sua Única Saída" (1947, TC Cult, 20h). Em um minuto Raoul Walsh, bem à sua maneira, já nos leva ao coração da ação, ali onde o filme pulsa.

Não que seja sempre assim, mas, sabe-se, Walsh gostava desses heróis tormentosos. E tormenta é o que não falta neste faroeste. Se o homem (Robert Mitchum) está nessa casa em ruínas é porque na sua infância algo de muito especial aconteceu. Algo que ele esperou anos e anos para recuperar na memória e, agora, enfrentar. Filme de antologia.

À tarde, quem se impõe são os encantos de "Um Mundo Perfeito" —ninguém esquecerá dos encantos de "Um Mundo Perfeito" (1993, Paramount, 16h30), de Clint Eastwood.


Endereço da página: