Folha de S. Paulo


Ex-empresário de Cristiano Araújo aposta agora em 'boy band' sertaneja

Fórmula para construir ídolos sertanejos:

1) Inove com moderação. Há milhares de candidatos a próximo Cristiano Araújo, o cantor que já era amado por multidões e foi alçado à fama sideral após sua morte precoce, aos 29, em junho. Para se destacar entre tantos, preserve ao menos um fiapo da raiz caipira, mas tenha em mente: você precisa ser um produto diferenciado no mercado.

Ex-empresário de Cristiano, Wilton Carlos, 46, pertenceu em "outra vida" à Comboio, uma "boy band" –aquelas bandas de garotos rebolativos que ajudaram a formar o "zeitgeist" (espírito do tempo) dos anos 1980 e 1990, como Menudos e Backstreet Boys.

Adaptou essa receita para 2015 e criou o que propagandeia ser a primeira "boy band" sertaneja. Custe o que custar. "Com menos de R$ 1 milhão você não começa a produzir nenhum artista", afirma, sem querer especificar o quanto investiu na nova empreitada. Escolher um bom nome para ela, aliás, é a próxima etapa.

Eduardo Anizelli/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 06-10-2015, 17h20: Retrato dos cantores sertanejos da banda Troia PH, 19, (de branco), Felipe de Paula, 20, (de preto), Hugo Henrique, 11, (menor) e Michel, 20, (de laranja). (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, ILUSTRADA) ***EXCLUSIVO***
Da esq.: os cantores PH, Felipe de Paula, Hugo Henrique e Michel, da "boy band" Tróia

2) Marca é tudo. Wilton fez uma lista com 200 possibilidades para batizar o quarteto, como Garotos e 4 Boys (4 garotos) –opções "de lascar", reconhece. A campeã foi Tróia.

"Tinha um barzinho em Goiânia, do Bruno e Marrone, chamado assim. Pesquisamos e achamos interessante essa história mística", diz, sobre os guerreiros descritos pelo grego Homero em "Ilíada".

3) Acerte o alvo com seus "guerreiros sertanejos". Primeiro Wilton chamou dois irmãos paulistas: Felipe Paula, 20, e Hugo Henrique, 11. O mais novo foi estrela mirim, no "Programa Raul Gil" (SBT) e trocava mensagens no WhatsApp com Cristiano Araújo, a quem chama de "padrinho".

De Goiás, a Meca do sertanejo, vieram Michel Silva, 19, e Phillipe Uchoa, 19, o PH.

Clipe de "Ainda", da banda Tróia

4) Agora que você já tem seus "troianos", molde uma personalidade distinta para cada um deles. Wilton levou os jovens para o show do Backstreet Boys no Brasil, em junho. Quis ensinar uma lição.

No grupo americano, cada membro tinha sua função, do "bad boy" A.J. ao caçulinha Nick Carter (hoje com 35 anos).

Acalentando o sonho de "chegar num shopping e todo mundo olhar pra mim", Michel é o "caipira despojado". Para esta entrevista, foi de boné preto para trás e casaco Nike laranja com mangas arregaçadas. À mostra, uma tatuagem de Jesus Cristo no braço.

"O Wilton pensou em montar um estilo pra cada. O povo diz que eu falo tudo errado, sou o mais caipirão. E sou também o mais escurinho da banda, então me visto mais largado, 'yeah', mais rapper", diz e gesticula. Os colegas riem, e o empresário olha com cautela.

Michel define PH como "o mais culto". O colega, que faz o tipo caladão e galã, acena. A mãe ouvia samba de raiz. Ele já abriu shows para Cristiano Araújo –PH e um irmão do astro tinham uma dupla, e os três cantavam juntos a música "Arrocha com Tequila".

Faltam os irmãos. Com blusa justa nos braços e cabelo arrepiado com gel, Felipe se diz o "mais internacional, tipo Bruno Mars" dos quatro.

Hugo, que não aparenta ter entrado na puberdade e só pode fazer show com autorização do Juizado de Menores, usa camisa social e madeixas em pé como o irmão. Define-se como o "garotinho do Raul Gil".

5) Se Cristiano fez escola, seus alunos têm lição de casa a fazer: aulas para cantar como o One Direction (banda juvenil desta década) e dançar como os Backstreet Boys.

Eles contam também receber toques para não falar besteira em público. Felipe lembra do "Restartgate". Em 2011, uma produtora cancelou um show em Manaus do Restart, banda de meninos com calças justas e coloridas. Alegou "razões de ordem pública".

O baterista enfurecera locais ao especular no programa "Vídeo Show" (Globo) se por lá havia "gente civilizada".

Os "troianos" confessam que decoram frases de efeito para entrevistas. Hugo saca uma para explicar que Tróia homenageia guerreiros. "Mas, em vez de armas, usamos microfones e perseverança."

6) Sim, tem a música também. A melosa "Ainda", primeiro potencial hit, vai assim: "Já tentei encontrar estrelas no céu/ Que não contassem nossa história/ É impossível". O clipe somava 630 mil visualizações no YouTube a três dias do lançamento nacional do Tróia, neste domingo (11), no Villa Country, em São Paulo.

TRÓIA
QUANDO dom. (11), às 23h
ONDE Festival Sertanejo no Villa Country, av. Francisco Matarazzo, 694, tel. (11) 3868-5858
QUANTO R$ 40 a R$ 120; 18 anos


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