Folha de S. Paulo


Diretora narra história de crianças abandonadas em 'Campo Grande'

No último domingo (4), o zelador de um prédio em Higienópolis, bairro de São Paulo, encontrou um bebê dentro de uma sacola perto do prédio onde trabalha.

Nesta sexta (9), a diretora Sandra Kogut exibe no Festival do Rio seu novo filme, "Campo Grande", sobre duas crianças deixadas pela mãe na portaria de um prédio em Ipanema, bairro de classe média alta do Rio de Janeiro.

Com o endereço de Regina (Carla Ribas) escrito no verso de uma ficha de loteria, Rayane (Rayane do Amaral) e Ygor (Ygor Manoel) aparecem na casa da mulher, que se separa do marido e vive um momento delicado com a filha.

Regina não reconhece as crianças, mas sabe que elas vêm de uma outra parte da cidade, um outro planeta: Campo Grande, bairro com áreas pobres da zona oeste do Rio.

Divulgação
Cena do longa
Cena do longa "Campo Grande", exibido no festival de cinema do Rio

"Apesar de tudo ser diferente entre Regina e Ygor – ela, mais velha, ele, criança; ela, mulher, ele, menino–, eles estão ali como iguais. Vivem um momento de vida parecido", diz Kogut, que escreveu o roteiro com Felipe Sholl.

"Campo Grande" é imerso na perspectiva das crianças e de Regina. Em "Mutum" (2007), seu primeiro longa de ficção, a diretora já optara por contar a história do ponto de vista de uma criança.

A ideia de "Campo Grande" surgiu nas gravações de "Mutum". Numa das cenas mais dramáticas deste último, a mãe entrega o filho para um desconhecido criar, na esperança de que assim ele tivesse oportunidade.

A diretora visitou abrigos, entrevistou crianças e assistentes sociais. A história de Rayane e Ygor é, assim, um mosaico de casos que conheceu durante a pesquisa.

Kogut, que também é documentarista ("Um Passaporte Húngaro", 2001), gosta de misturar ficção e realidade. "Acho que a vida é muito rica. Quando você tenta recriá-la, é uma guerra perdida".

Rayane e Ygor não são atores profissionais, e os personagens têm os nomes dos atores. As atrizes que fazem o papel de Regina, sua filha e a empregada moraram juntas no apartamento onde o filme foi gravado. Ensaiaram lá.

Durante a filmagem, Kogut pediu que a produção não a avisasse quem era ou não um figurante. "As cenas são pensadas assim, para se alimentarem do que acontece nos lugares de verdade."

Boa parte do filme foi gravada nas ruas do Rio, cobertas por tapumes das obras que estão sendo feitas na cidade para receber a Olimpíada. São símbolo das transformações pelas quais passa o país, a cidade e os personagens.

"Mudanças acontecem em várias camadas, na vida de cada um, na circulação dentro da cidade. É tudo ligado".

CAMPO GRANDE
QUANDO sex. (9), às 22h30
ONDE Cinépolis Lagoon, av. Borges de Medeiros, 1.424, tel. (21) 2512-3002; R$ 20


Endereço da página:

Links no texto: