Folha de S. Paulo


Stephan Doitschinoff apresenta performance no centro de SP neste sábado

Em algo entre uma marcha militar e uma procissão religiosa, um grupo de pessoas surgirá uniformizado, com máscaras de diabos e caveiras, carregando estandartes pelo centro de São Paulo.

Universos cercados por conservadorismo, como os da igreja e das Forças Armadas, são suportes para mensagens que estimulam o pensamento crítico no trabalho do artista plástico paulista Stephan Doitschinoff, o Calma.

"É como um hacker que invade, por exemplo, o site de uma grande empresa e coloca nele um discurso oposto, ganhando assim mais força e projeção", explica.

A "Marcha dos Três Planetas" sairá do Theatro Municipal rumo ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), que sedia a mostra Música Performance no sábado (10).

Muitas camadas envolvem o cortejo: pintura, música, vídeo, figurinos e até um site. Em tudo há simbologia, maior traço da carreira do artista, que brinca com a semiótica, atribuindo novos significados políticos e sociais a representações tradicionais.

Ig Aronovich/Lost Art
CRAS DO MIC…LIO / Stephan Doitschinoff com participaÁ„o especial de MixHell ( Laima Leyton e Iggor Cavalera ) Cortejo / Performance CRAS DO MIC…LIO Foto: Ig Aronovich/Lost Art
Procissão "Cras do Micelio", na Vila Madalena, em 2013

Os três planetas que dão nome ao trabalho, por exemplo, estão ligados aos excessos do consumo. "A gente consome tanto que seriam necessários três planetas para atender a demanda", diz.

Um satélite em chamas representa a mídia "corrompida" e São Paulo, uma cidade "militarista, fascista, cheia de 'haters'", é ironizada por imagens de fábricas do ABC afundando e do Banespa, extinto banco estatal paulista vendido em 2000 ao Santander.

Esses e outros símbolos aparecerão cravejados, como medalhas militares, nas fardas, em máscaras que lembram festas folclóricas, nos estandartes e em um hino, criado em parceria com a compositora Lia Paris e o grupo MixHell, de Iggor Cavalera e Laima Leyton.

A música que entoará a caminhada, aliás, é a maior novidade desta edição, em relação às marchas anteriores –do Brilho do Sol, em 2011, e Cras do Micelio, em 2013.

No destino final, o cortejo assistirá a um coral de crianças cantando a canção, que fala sobre a "procrastinação" característica dessa geração.

"É um hino sem futuro. Faz todo o sentido ele ser apresentado por crianças."

As marchas são parte do "Culto do Futuro", espécie de clã cujo manifesto avisa: "Não temos respostas para os seus problemas".

Interessados podem se inscrever para participar da "Marcha dos Três Planetas" até o dia anterior ao evento (leia ao lado).

'A RELIGIÃO É UMA TELA'

Doitschinoff conheceu a fundo os símbolos religiosos ainda na infância. Filho de um pastor evangélico, frequentava cultos e estudava os livros sagrados.

Aprofundou a experiência em uma temporada vivendo no interior da Bahia, onde são fortes a religiosidade e a cultura das procissões.

Lá, em um dos trabalhos mais conhecidos, pintou em dois anos toda a cidade de Lençóis, espalhando pelas casas e muros seus símbolos sagrados "hackeados" com reflexões profanas.

"Eu não olho para a religiosidade como uma inspiração. Para mim, ela é um suporte, uma tela, como a música ou o [aplicativo] WhatsApp", diz.

Além de Doitschinoff, a mostra no CCBB apresenta as performances "Experimento Sn50", de Ricardo Nolasco e Jô Mistinguett, e "Cão", de Maurício Ianês, Dora Longo Bahia, Bruno Palzzo e Ricardo Carioba.

As inscrições para participar da marcha estão abertas no site do Culto ao Futuro até esta sexta-feira (9). Há um limite de 300 participantes.

MARCHA DOS 3 PLANETAS
QUANDO sáb. (10), 16h
ONDE CCBB, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651
QUANTO grátis


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