Folha de S. Paulo


Mostra no Instituto Moreira Salles exibe olhar curioso de Alice Brill

O olhar estrangeiro e curioso, porém desinibido, de Alice Brill diante de cidades sul-americanas pode ser visto, até janeiro de 2016, na exposição "Impressões ao Rés do Chão", no Instituto Moreira Salles paulistano. São 90 imagens da fotógrafa alemã naturalizada brasileira, morta em 2013, aos 92 anos.

A mostra, com curadoria de Giovanna Bragaglia, traz fotografias de capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Buenos Aires, além de registros de uma expedição que Alice fez ao lado do político Café Filho para a ilha do Bananal, em Tocantins.

Trabalhos importantes na carreira da fotógrafa, caso de um ensaio sobre São Paulo encomendado pelo historiador Pietro Maria Bardi (mas que não chegou a ser publicado) e de imagens dos internos do Hospital Psiquiátrico de Juquery no ateliê da Escola Livre de Artes Plásticas, estão entre as obras selecionadas.

Alice teve papel significativo na documentação da metrópole paulistana. Ela não restringiu o olhar ao processo de modernização da cidade, mas se deteve também em cenas cotidianas e periféricas.

As imagens expostas agora revelam que a preocupação em registrar os vários cantos das cidades, com todas suas nuances, era constante no trabalho da fotógrafa.

DEIXADA DE LADO

O volume exposto, no entanto, é parte pequena da produção de Alice: o Instituto Moreira Salles adquiriu em 2000 o acervo completo da artista, com cerca de 14 mil negativos produzidos entre as décadas de 1940 e 1960.

A quantidade poderia ser ainda maior se Alice não tivesse deixado de lado a fotografia anos mais tarde.

Influenciada pelo pai, o artista plástico Erich Brill, ela alimentava o desejo de ser pintora. Segundo Silvia Czapski, filha da fotógrafa, a chegada ao Brasil, aos 13 anos –quando passou alguns meses com o pai na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro–, a aproximou ainda mais da pintura. "Ela ficou apaixonada pelas cores brasileiras", diz.

Mas encontrou na fotografia um meio de subsistência mais seguro. Alice e a família vieram para o país para escapar do nazismo –o pai, judeu, retornou logo depois para a Alemanha, onde morreu em um campo de concentração.

Em tentativas de se estabelecer no Brasil, Alice trabalhou como secretária e também no atendimento da Livraria Guatapará, em São Paulo. No local, ponto de encontro de artistas, ela conheceu o pintor Paulo Rossi Osir, com quem passou a ter aulas.

Foi no fim dos anos 1940 que se estabeleceu como fotógrafa. Durante duas décadas, enquanto seu marido, Julian Czapski, cursava medicina, ele ajudava Alice cumprindo a função de seu assistente.

Porém, assim que Julian se formou e a condição financeira da família se estabilizou, ela passou a se dedicar exclusivamente à pintura.

As caixas com fotos e negativos de Alice foram parar, literalmente, no fundo de um armário, e o laboratório de fotografia migrou da frente para o fundo da casa.

Silvia, contudo, diz que não se tratou de um "divórcio litigioso". "Ela abandona a fotografia, mas faz pinturas magistrais em branco e preto. Há ali uma relação com sua visão como fotógrafa."

ALICE BRILL: IMPRESSÕES AO RÉS DO CHÃO
QUANDO ter. a sex., das 13h às 19h, sáb. e dom., das 13h às 18h; até 10/1/2016
ONDE Instituto Moreira Salles, r. Piauí, 844, 1º andar, tel. (11) 3825-2560
QUANTO grátis


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