Folha de S. Paulo


Na 17ª edição, Festival do Rio encara dilemas da pré-maturidade

Ao chegar à 17ª edição em 2015, o Festival do Rio vive o auge das turbulências adolescentes –na programação (boa parte sobre as agruras do amadurecimento) e na estrutura da mostra, uma das mais importantes do Brasil.

Em ano de crise econômica e câmbio galopante, o festival carioca, que começa nesta quinta (1º) está enxuto –cerca de 250 filmes em 25 salas neste ano, ante os 350 em 35 locais da edição de 2014.

"Cenário diferente seria impossível num ano como este: não havia como não pensar em reestruturação", afirma Ilda Santiago, diretora do festival. "Os parceiros regulares não saíram, mas perdemos alguns dos patrocinadores eventuais, outros pediram alguns ajustes pontuais."

Ela calcula que o orçamento da edição está quase 20% menor (dos quase R$ 10 milhões do ano passado foi para cerca de R$ 8 mi neste ano).

A crise cambial também corrói o dinheiro em caixa já que boa parte dos custos é em dólar ou euro. "A situação do país acelerou algo que já tínhamos em vista: diminuir programa e o circuito diante de reclamações do público."

A Petrobras, uma das maiores patrocinadoras do festival, investe nesta edição o mesmo que nos dois anos anteriores (R$ 1,4 milhão via patrocínio direto). Informa à Folha, via assessoria, que ainda não consegue estimar os aportes que aplicará em 2016.

Sobre perspectivas para o ano que vem, quando prognósticos para o investimento em cultura não são dos mais felizes, Ilda diz: "Já sabemos que vai ter de haver uma renegociação, ainda mais por causa dos Jogos Olímpicos. Estamos ao sabor do país".

MUNDO ADOLESCENTE

Os dilemas da pré-maturidade que vive o festival também se refletem nos filmes de sua programação: uma profusão de longas que revolvem sexualidades complicadas e conflitos com o mundo vividos por jovens personagens.

Dez ficções giram em torno da chegada da maturidade. "Todos os festivais têm notado a tendência", diz Ilda.

De Cannes veio pinçado "Cinco Graças", de Deniz Gamze Ergüven, sobre irmãs turcas de sexualidade reprimida. De Sundance vem "Eu, Você e a Garota que Vai Morrer", de Alfonso Gomez-Rejon, sobre um adolescente que se envolve com uma garota com leucemia. Exibido em Toronto, "Gigante Adormecido", de Andrew Cividino, traz um garoto às voltas com sua percepção sobre morte e sobre sexo.

O italiano "Short Skin", de Duccio Chiarini, é protagonizado por um jovem angustiado diante da possível perda da virgindade. O japonês "Febre Ondulante", de Hiroshi Ando, trata de sexo sem limites entre dois adolescentes.

"The Diary of a Teenage Girl", de Marielle Heller, fala de amor e sexo na era hippie. Já "Aos 14", de Helene Zimmer, das diferentes visões de mundo de três meninas francesas. "Histórias de Nossas Vidas", de Jim Chuchu, é sobre jovens LGBT no Quênia.

"Dora ou as Neuroses Sexuais de Nossos Pais", de Stina Werenfels, tem uma garota de sexualidade desenfreada. E "Micróbio & Gasolina", do francês Michel Gondry, é um road movie adolescente.

PREPARE-SE Destaques da programação do Festival do Rio

Sicario: Terra de Ninguém
Denis Villeneuve ("Incêndios") aborda a guerra às drogas na fronteira entre México e EUA sob o ponto de vista de uma agente do FBI, papel de Emily Blunt

Quase Memória
Ruy Guerra volta à direção após um hiato de dez anos com trama sobre homem que se emaranha nas próprias lembranças após receber um misterioso pacote que parece ter sido enviado pelo pai, já morto

Olmo e a Gaivota
Petra Costa ("Elena") bagunça fronteiras entre documentário e ficção com filme sobre atriz de teatro que se fecha em si mesma após a gravidez

Mia Madre
Nanni Moretti trata de uma cineasta espremida entre crises familiares e uma filmagem que é tumultuada por um ator problemático

O Final da Turnê
É baseado no encontro real entre o jornalista David Lipsky e o escritor David Foster Wallace

The Lobster
O grego Yorgos Lanthimos roda trama insólita sobre pessoas obrigadas a viver relacionamentos amorosos caso não queiram virar animais

O Clã
Vencedor do prêmio de direção em Veneza, o argentino Pablo Trapero roda thriller baseado no caso verídico de uma família de sequestradores

Programas especiais
O estúdio de animação japonês Ghibli terá retrospectiva; o cineasta Orson Wellles ganha mostra com obras raras

FESTIVAL DO RIO
QUANDO de 1/10 a 14/10
QUANTO de R$ 8 a R$ 20
PROGRAMAÇÃO no site do festival


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