Folha de S. Paulo


Mostra resgata produção de vanguarda do Grupo Mineiro de Moda

A amnésia é um mal da moda. A cada temporada são lançados novos nomes e tendências, descartadas com rapidez similar à que são digeridas nas redes sociais.

O Brasil teve, em seu histórico de meio século de moda autoral, quatro grupos de estilistas que serviram de embrião para a formação das semanas de desfiles. O Grupo Mineiro de Moda é um deles.

Dez marcas e estilistas promoveram, a partir de 1980, desfiles faraônicos em cidades como Ouro Preto e Belo Horizonte. As apresentações, que chegavam a custar R$ 200 mil –valor exorbitante para a época– atraíam imprensa e compradores.

Fotos e looks desse tempo, esquecidos em arquivos pessoais e nos armários de ex-clientes, foram recuperados pelo estilista Renato Loureiro, um dos fundadores do coletivo, para a mostra "Grupo Mineiro de Moda. #navanguardadosanos80#", em cartaz no Centro de Referência de Moda, em Belo Horizonte.

João Paulo de Castro/Divulgação
Modelos da mostra
Modelos da mostra "Grupo Mineiro de Moda #avanguardadosanos80#, em cartaz no Centro de Referência da Moda, em Belo Horizonte

A exposição comemora os 35 anos da fundação do grupo.

Numa das quatro salas do prédio, estão dispostos 36 conjuntos de roupas das grifes Comédia, Artimanha –atualmente chamada Mabel Magalhães– Allegra, Femme Fatale, Frizon –atual Mônica Torres–, Patachou, Straccio, Bárbara Bela, Art Man e Pitti, antiga grife de Loureiro.

"A curadoria foi um processo de resgate difícil. Tive de procurar a amiga da amiga das clientes, que tinham peças perdidas", explica Loureiro.

Imagens e reportagens compõem outra seleção da mostra, que ainda exibe sapatos e vídeos dos desfiles organizados por nomes como Paulo Borges –muito antes de criar a SP Fashion Week–, a editora Regina Guerreiro e o stylist Paulo Martinez.

As apresentações simbolizavam a megalomania dos estilistas e as vendas pujantes da época, mitigadas pela venda de importados e pela crise econômica pré-Plano Real.

No desfile de inverno de 1988, 150 modelos desfilaram pela Praça da Estação, no meio de uma plataforma ferroviária. Na última performance do grupo, em 1994, modelos recebiam hóstias e as jogavam pelo chão em frente à igreja de São Francisco de Assis.

"Éramos ousados, havia um desprendimento e uma vontade de mudar os padrões, um sentimento dos anos 1980", explica Liana Fernandes, estilista da grife Comédia.

Naquela época, grupos como o Núcleo Paulista de Moda, do qual fizeram parte as estilistas Gloria Coelho e Clô Orozco [1950-2013], e o Grupo São Paulo, no qual Zoomp e Forum fizeram história, também apresentavam suas coleções e concorriam com o Rio, até ali epicentro da efervescência criativa de moda no país.

Liana, assim como parte do grupo mineiro de moda, fechou as portas da empresa por dificuldades financeiras. "Para muitos, aquilo tudo [os desfiles] ficou insustentável."

A estilista Sonia Pinto foi uma das que resistiu ao tempo e, hoje, cria looks exclusivos para clientes. A artista performática sérvia Marina Abramovic saiu de sua última passagem pelo Brasil com criações da designer.

"Hoje falta glamour [à moda], algo que se perdeu no meio do caminho. As pessoas se renderam à uniformidade, estão todas iguais, usam roupas iguais", diz Pinto.

GRUPO MINEIRO DE MODA
QUANDO ter. a sex., das 9h às 21h, sáb e dom, das 10h às 14h; até 20/12
ONDE Centro de Referência da Moda, r. da Bahia, 1.149, Belo Horizonte, tel. (31) 3277-9248
QUANTO grátis


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