Folha de S. Paulo


Carlos Monroy refaz clipe clássico da lambada para festival

"Remake Kaoma." Na porta de um estúdio no Bom Retiro, no centro paulistano, uma folha presa com durex avisa que "Chorando se Foi", o hit do grupo de lambada mais famoso do mundo, está prestes a voltar, ressuscitado dos longínquos anos 1990.

"Todo mundo feliz, sorrindo e cantando", grita Carlos Monroy aos bailarinos que ensaiam os passinhos sensuais da dança fora de cena. "Quero todos vocês se lembrando de quando tinham oito anos e dançavam isso."

Ele se lembra com exatidão. Artista colombiano radicado em São Paulo, Monroy, 31, conta que sua primeira imagem do Brasil nada tem a ver com samba ou futebol –a lambada, estilo que estourou há mais de 20 anos, emoldurou desde sua infância a imagem de um país não muito distante, tão latino quanto a Colômbia e meio vidrado em sexo.

Viciado em lambada até hoje, o artista decidiu criar uma espécie de museu dedicado ao gênero dentro do próximo Videobrasil, festival de arte contemporânea que começa em outubro, em São Paulo.

Uma das peças centrais de seu projeto é uma nova versão do clipe de "Chorando se Foi", aquele em que um grupo de dançarinos –homens só de bermuda, mulheres com saias que rodopiam no ar revelando minúsculas tangas– sensualizam numa praia idílica.

Mas, no remake de Monroy, o mar sai de cena para dar lugar a paisagens andinas, como o deserto de sal de Uyuni, na Bolívia. Isso porque antes de ganhar o mundo como símbolo da libido latina, a melodia do hit era uma canção clássica daquele país usada para afinar flautas.

"Ela nasceu com esse propósito e depois acabou virando uma das músicas mais famosas do planeta", conta Monroy. "Na Bolívia, descobri que isso é quase como uma 'Garota de Ipanema', um segundo hino nacional."

Toda essa história e a briga judicial por direitos autorais entre a banda original de "Llorando se Fue", os bolivianos Los Kjarkas, contra os franceses que inventaram o Kaoma, eternizando "Chorando se Foi" na voz da brasileira Loalwa Braz, deve estar no trabalho de Monroy.

Numa tentativa de endireitar as injustiças da história, Monroy também convidou os imigrantes bolivianos do Bom Retiro para participar do novo clipe, dando uma dimensão política à narrativa de um dos maiores fenômenos pop do fim do século passado.

"É um estudo da coisa de todos os ângulos possíveis", resume o artista. "A lambada serviu para mostrar o Brasil depois da ditadura como país liberado. Ela foi usada para melhorar sua imagem no exterior e forjar todo esse imaginário de praias, bundas, futebol e sexo que vigora até os dias de hoje."


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