Folha de S. Paulo


Mostra em São Paulo exibe filmes criados por artistas visuais no cinema

Não é uma cena incomum. Numa exposição, o público não costuma parar mais de um minuto em frente a uma obra de arte. No caso de filmes e vídeos, essa presença é esticada ou encurtada de acordo com o impacto que a cena em questão pode ter num determinado momento —quem entra durante os créditos ou uma tela apagada nem fica.

Na contramão dessa dinâmica, a mostra "Olho", que começa nesta terça e vai até quinta em São Paulo, leva para o cinema trabalhos de artistas visuais que costumam ser vistos desse jeito fragmentado. É a tentativa de impor os códigos de uma sala de cinema, só abandonada quando o filme é insuportável, ao universo da videoarte. No total, dez artistas, entre eles a brasileira Tamar Guimarães, o mexicano Mario García Torres e o albanês Adrian Paci, terão seus filmes exibidos em três sequências distintas.

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Cena de filme de Adrian Paci que estará na mostra 'Olho', no Espaço Itaú de Cinema
Cena de filme de Adrian Paci que estará na mostra 'Olho', no Espaço Itaú de Cinema

"Tentamos criar um efeito dominó com essas séries", diz Vanina Saracino, uma das organizadoras da mostra. "A ordem em que eles aparecem estabelece certos elementos, ou seja, um assunto pode aparecer num filme e outro aspecto desse tema ressurge no próximo. Há sempre um elemento que ajuda a guiar o espectador."

"The Column", um trabalho de Paci, por exemplo, mostra homens num navio transportando uma bloco de mármore esculpido ao longo da viagem em forma de coluna românica. Na sequência, "New York City Symphony", filme do norte-americano Reynold Reynolds, constrói um panorama visual de Nova York ao costurar uma série de elementos icônicos e anônimos da metrópole. Guimarães, com "A Família do Capitão Gervásio", encerra a série com sua investigação de uma cidade em Goiás onde todos são médiuns.

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Cena de vídeo de Tamar Guimarães que estará na mostra 'Olho', no Espaço Itaú de Cinema
Cena de vídeo de Tamar Guimarães que estará na mostra 'Olho', no Espaço Itaú de Cinema

Outro filme da artista, que esteve na Bienal de São Paulo há cinco anos, também está na mostra. "Canoas", rodado na casa batizada com esse nome que Oscar Niemeyer construiu para ser sua residência no Rio, explora relações de classe e frivolidades intelectuais na ressaca —e fracasso retumbante— do projeto modernista brasileiro, um tema caro à autora radicada em Copenhague e a toda uma geração de artistas do país.

Nos filmes de Guimarães, a relação dessas estruturas arquitetônicas com a forma como são fotografadas, em especial em película, denuncia um traço comum a todos os filmes da seleção —um diálogo poderoso com as estruturas narrativas do cinema. É o caso da finlandesa Salla Tykka que faz com seu filme uma "ode queer", nas palavras de Saracino, à obra de Alfred Hitchcock.

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Cena de filme de Salla Tykka que estará na mostra 'Olho', no Espaço Itaú de Cinema
Cena de filme de Salla Tykka que estará na mostra 'Olho', no Espaço Itaú de Cinema

"Queremos criar um lugar em que esses filmes entrem em relação", diz Alessandra Bergamaschi, outra idealizadora do evento. "Não deixa de ser uma mostra coletiva, mas de forma sequencial, num espaço imersivo. Achamos que os filmes do cinema de arte contemporâneo têm duração maior e não faz muito sentido essa apresentação só em salas e galerias de museus."

OLHO
QUANDO de 18/8 a 20/8, com sessões às 18h, 20h, 22h e 0h
ONDE Espaço Itaú de Cinema, r. Augusta, 1.475
QUANTO grátis


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