Folha de S. Paulo


Ex-ajudante de pedreiro usa tijolos em esculturas à mostra no Paço das Artes

"Como é que o Andrey trouxe tudo isso?", perguntou Santa, 81, de frente para a instalação artística "Erosões #5", com cerca de 500 tijolos sobrepostos em salas do Museu Histórico e Cultural de Jundiaí (SP), na mostra "Territórios Forjados #3".

"Foi caminhão, né, mãe?", completou a filha Vânia, 56, prestigiando também a exposição do sobrinho de 34 anos, que morou com as duas até os 14. "Desde pequenininho ele tinha essa habilidade", diz Santa, lembrando a época em que o artista Andrey Zignnatto pintava na cozinha.

Na casa onde eles viviam, dividindo dois quartos entre sete pessoas, hoje restam poucos trabalhos —meia dúzia de telas surrealistas e um desenho em grafite de Santa e seu marido, Lázaro, que morreu em 2002.

Jorge Araújo/Folhapress
JUNDIAI SP Brasil 12 08 2015 ANDREY ZIGNNATTO,34, artista plastico começou ajudando o avo com servente de pedreiro dos 10 aos 14 anos e começou a se apaixonar pela arte pintou quadros mas élegeu o tijojo como forma de expressão.Esta com obra exposta no museu Barão de Jundiaí ao lado da sua avo Santa Zignnatto unica que apostou no neto como artista. Andrei perto dos fornos de fabrica de tijolos onde faz interferencias nas peça expostas ILUSTRADA. Jorge Araujo Folhapress 703 ORG XMIT: XX - Legenda do jornal: Ex-ajudante de pedreiro, Andrey Zignnatto usa tijolos para fazer esculturas
Andrey Zignnatto posa sobre os 500 tijolos que formam a obra 'Erosões # 5', em Jundiaí (SP)

Com a ajuda da avó, a primeira a financiar os suportes e as tintas para o neto, Zignnatto conseguiu bolsa em um curso da Associação dos Artistas Plásticos de Jundiaí. Mas foi do trabalho de assistente do avô pedreiro, dos dez aos 14, que ele resgatou sua matéria-prima atual: o tijolo.

Desde 2009, Zignnatto faz de olarias seu ateliê. O calor provocado pela estufa que opera a 100ºC e o forno que chega a 900ºC não parece problema para o artista que já trabalhou em um estúdio diminuto na zona oeste de São Paulo, mas desistiu em um ano pela sensação de claustrofobia que tinha ali.

Representado pela galeria Blau Projects, com três obras na Temporada de Projetos do Paço das Artes, na USP, em São Paulo, Zignnatto inaugurou uma mostra individual em Jundiaí, onde vive.

Para a instalação, preencheu duas salas de chão de madeira com tijolos que pesam juntos cinco toneladas.

É REFORMA?
Parte das peças, recortadas com uma faca, transbordam pela porta, dando um efeito de erosão à instalação —que, situada acima do porão do prédio tombado em Jundiaí, confundiu visitantes.

A tradutora Rosa Braga achou que o local estava sendo reformado. Regina Kalman, professora, opina que o trabalho deveria ser reconsiderado. "Parece que o piso vai desabar. Não sou contra, mas o prédio exige cuidados."
Fernando Mazzei, assessor da Defesa Civil, e Donizete Pinto, diretor de patrimônio da Secretaria de Cultura de Jundiaí, garantem que a obra não apresenta riscos.

"A Defesa Civil realizou uma vistoria e confirmou que não há danos na estrutura do prédio", afirma Mazzei.

"É uma cidade muito conservadora. Por que não ocupar um prédio antigo?", questiona Zignnatto. Desde que passou a frequentar fábricas em Jundiaí, ele realiza experimentações com o barro ainda mole. Após sua intervenção, os tijolos seguem para a estufa e depois para o forno.

Quando teve a ideia de visitar a olaria na qual acompanhava o avô para a compra de materiais, Zignnatto pouco sabia do processo, mas fez dele um terreno fértil.

A caçamba onde os funcionários arremessam os tijolos defeituosos, amassados pelo impacto e pelo peso dos demais, serviu de inspiração para "Empilhamento para Estruturas Falidas", na mostra jundiaiense. Já a obra "Erosões # 5" partiu da observação de processos erosivos.

Nos próximos meses, ele realiza uma intervenção no jardim do Museu da República, durante a feira ArtRio, e leva quatro instalações para a Feira de Arte Contemporânea Odéon, na Colômbia.

"Ele faz tudo com muito capricho", elogia a avó Santa. A obra preferida dela, no entanto, continua sendo o desenho que o neto fez em grafite, pendurado em cima da TV.

TERRITÓRIOS FORJADOS #3
QUANDO: ter. a sex., das 9h às 17h, sáb, das 9h às 13h; até 27/8
ONDE: Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, r. Barão de Jundiaí, 762, Jundiaí (interior de São Paulo), tel. (11) 4521-6259
QUANTO: Grátis

2ª TEMPORADA DE PROJETOS 2015
QUANDO: qua. a sex., das 10h às 19h, sáb. e dom., das 11h às 18h; até 20/9
ONDE: Paço das Artes, av. da Universidade 1, Cidade Universitária, São Paulo, SP, tel. (11) 3814-4832
QUANTO: Grátis


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