Folha de S. Paulo


crítica

Filme 'Obra' é retrato enfadonho de São Paulo

Com "Obra", o cinema paulista retorna à sua grande paixão: São Paulo, a metrópole. A paisagem urbana com prédios, trânsito, avenidas, poluição, concreto.

O mundo pode estar caindo, a economia no buraco, a bomba H prestes a estourar, as últimas árvores da Amazônia mirrando. Nada, o que importa é São Paulo.

"Obra" instaura, no meio dessa vida frenética, uma figura estranha: calma, pouco falante, um tanto depressiva. Um arquiteto que ora nos fala de implosões, ora cuida do restauro de uma igreja, ora acompanha a gravidez da mulher, ou a morte lenta do pai.

De passagem, descobre ossadas no solo da igreja em que trabalha e cujo terreno foi propriedade da família. Quem foram essas pessoas?

Talvez isso levasse o filme a algum lugar, mas o arquiteto sofre uma crise de coluna (ou similar) e vai fazer ressonância magnética. E se acomoda no aparelho. E vamos às fotos da coluna. Horas de fotos. Diagnóstico, a quem possa interessar: hérnia.

TREME-TREME

"Obra" nos conduz a um passeio, assim, ao mundo encantador da ressonância magnética, dos corredores de treme-treme, doenças terminais, construção civil. Talvez eu tenha dormido na hora, mas não vi o metrô. Inova-se.

No que dá a colheita de ossos no terreno? No que dá o restauro? Não é fácil manter os olhos abertos. A promessa de alguma tensão chega quando temos mais de meia hora de filme, quando um diálogo tenso se anuncia entre o arquiteto e um homem, na porta de seu apartamento.

O homem bate a porta na cara dele e some do filme. O protagonista vai embora se arrastando pelo corredor soturno. Voltamos à metrópole, ao concreto, à gravidez da mulher, à fatalidade da morte.

Falta dizer que o arquiteto tem uma mulher que fala inglês (o que comprova nossa vocação de metrópole extranacional). E que o filme é em preto e branco.

OBRA
QUANDO: estreia nesta quinta (13)
ELENCO: Irandhir Santos, Julio Andrade, Lela Peploe
PRODUÇÃO: Brasil, 2014, 12 Anos
DIREÇÃO: Gregório Graziosi


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