Folha de S. Paulo


Filmes brasileiros concorrem com discrição no 68ª Festival de Locarno

O Brasil volta ao Festival de Locarno (Suíça) em 2015 com menos fanfarra, um ano depois de "Ventos de Agosto" receber menção honrosa na competição principal e de a exibição de "Que Horas Ela Volta" para o mercado estrangeiro despertar o interesse de distribuidores e de curadores de outras mostras.

Na 68ª edição do evento, que começa nesta quarta (5), não há longa brasileiro na disputa pelo Leopardo de Ouro, o equivalente local à Palma de Ouro de Cannes –festival que pertence à mesma liga de Locarno, Berlim, Veneza e Roterdã: a dos maiores encontros do cinema de autor.

O foco dedicado ao país na ala de negócios do evento em 2014, quando sete filmes nacionais foram mostrados a "olheiros" do cinema, neste ano se volta para Israel.

O Brasil comparece agora à seção Cineastas do Presente, com o filme "Olmo e a Gaivota". Nele, Petra Costa (do documentário ensaístico "Elena"), novamente entre a realidade e a ficção, filma as dúvidas e aflições de uma atriz que se descobre grávida durante os ensaios da peça "A Gaivota", de Tchékhov. A direção é dividida com a dinamarquesa Lea Glob –trata-se de uma coprodução entre os dois países.

O título é um dos 14 a serem avaliados por um júri presidido pelo decano Júlio Bressane. Ele também leva à Suíça, fora de competição, seu novo trabalho, "O Garoto", e três outros realizados sob o guarda-chuva de um projeto de produções de baixo orçamento: "O Espelho" (Rodrigo Lima), "O Prefeito" (Bruno Safadi) e "Origem do Mundo" (Moa Batsow).

Rodado há três anos, "Heliópolis" está na aba Piazza Grande. Nela, filmes de apelo popular (comédias ou dramas edificantes, sobretudo) são exibidos ao ar livre a até 8.000 pessoas.

O longa coloca o ator Lázaro Ramos novamente sob a batuta de Sérgio Machado ("Cidade Baixa"), desta vez no papel do violinista que dá aulas a jovens da periferia paulistana após ser reprovado em concurso da Osesp.

Já na competição de curtas e médias, o cinema brasileiro surge com "História de uma Pena", de Leonardo Mouramateus, e "O Teto sobre Nós", de Bruno Carboni.

'DESCOBRIDOR'

Em entrevista por e-mail, o diretor artístico do festival, Carlo Chatrian, minimiza o "downgrade" da representação brasileira nesta edição e sublinha o papel de "descobridor" de Locarno.

"O fato de o novo filme do Gabriel Mascaro (de 'Ventos...') ter sido selecionado agora para Veneza comprova isso, assim como o de termos escalado duas primeiras obras brasileiras ['O Espelho' e 'Origem do Mundo'] fora de competição", diz ele.

Chatrian afirma também que "O Futebol", na disputa pelo Leopardo de Ouro, "apesar de ser oficialmente uma produção espanhola, pode ser considerado brasileiro pela origem de seu diretor [o paulistano Sergio Oksman, radicado desde 1999 em Madri] e pelo seu tema". "Tenho certeza de que será uma das grandes surpresas deste ano", completa.

Em busca do equilíbrio entre a tal vocação de vitrine de autores e a cota de glamour e tapete vermelho aparentemente necessária à repercussão em escala global, Chatrian montou uma programação no mínimo versátil.

Ao lado de inéditos assinados por queridinhos da cinefilia, como Chantal Akerman e Hong Sang-soo, e de uma homenagem a Michael Cimino ("O Franco-Atirador"), figuram "prêmios pela carreira" aos atores Edward Norton e Andy Garcia, além de sessões de gala das comédias americanas "Descompensada" e "Ricki and the Flash".


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