Folha de S. Paulo


Wagner Moura faz um Escobar 'humano' em nova série da Netflix

Wagner Moura parecia ainda mais parrudo vestindo um grosso casaco para se proteger do frio, no set onde não há sinal de celular, a cerca de 40 minutos de Bogotá, a capital da Colômbia.

Quase 20 quilos mais gordo, o ator circulava à vontade no início de fevereiro nas filmagens da série "Narcos", que estreia no dia 28 na Netflix, fazendo piadas em espanhol e cantando funk com outros membros da equipe.

O ganho de peso e a desenvoltura no idioma, que não falava antes de conseguir o papel do narcotraficante Pablo Escobar, mostram seu empenho em mergulhar no papel.

Jornalistas colombianos no set atestaram: Wagner, que teve ajuda de um técnico de sotaques, deu conta do recado. Fato que não surpreendeu o diretor José Padilha : "Wagner é um grande ator. Se tiver tempo para estudar, atua em qualquer língua".

O ator teve tempo –e aproveitou-o ao máximo. Meses antes das filmagens foi para Medellín, leu "todos os livros que existem sobre Escobar" e matriculou-se numa faculdade para dominar a língua.

Se Padilha descarta ambiguidade no facínora Escobar, ele vê mais nuances do personagem, que seria o sonho de qualquer ator. "É cheio de contradições. No bairro de Escobar tem uma parede com a cara dele e Jesus do lado. Mas foi um dos maiores assassinos da história moderna."

No primeiro episódio, o narrador, um agente americano, diz que no mundo das drogas é difícil discernir o bom do ruim. A série sustenta esse ponto de vista. Escobar é um vilão? Wagner hesita. "Tento representá-lo com um ser humano. Era muito devotado à família." Pausa. E ri. "Mas era um cara ruim."

Eric Newman, um dos produtores da série, afirma que Wagner foi essencial nesse sentido. "O fato de ser ele faz com que você acabe gostando de Escobar."

Se o traficante não é um vilão maniqueísta, tampouco os americanos que tentam capturá-lo são mocinhos clássicos. Newman cita o filme "Sniper Americano" como antiexemplo. "É uma história sobre como os americanos veem uma situação complexa e dão uma solução simplista. 'Se a gente matar esse cara vamos acabar com o tráfico de cocaína.' Isso não faz sentido. Se você não resolver a questão da demanda americana, outro grupo vai ofertar."

Padilha tem visão parecida. "A criminalização das drogas é um erro brutal. Outro erro é o de tentar combater o tráfico de drogas pesadas –cocaína, crack e heroína–apenas com a polícia, sem investimento maciço em educação desde cedo."

Embora trate de um tema pesado, o produtor Chris Brancato destaca que há ali bastante humor. "José capturou alguns dos absurdos do tráfico e se divertiu com isso."

O seriado mostra traficantes que não sabiam o que fazer com tanto dinheiro –chegavam até a enterrá-lo.

"Não é 'Poderoso Chefão'. Está mais para 'Os Bons Companheiros'", diz Brancato.

A jornalista FERNANDA REIS viajou a convite da Netflix


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