Folha de S. Paulo


Bibi Ferreira reestreia, agora em SP, espetáculo com músicas de Sinatra

Faltavam apenas três semanas para o fim da turnê "Bibi Ferreira Canta Repertório Sinatra", quando a atriz de 93 anos passou mal. Levada a um hospital, foi diagnosticado um infarto e realizado um cateterismo. Poder-se-ia imaginar que o incidente marcaria o fim de sua relação com os palcos, mas ela nem lembra-se direito dele.

"Não sei bem como foi, não sofri, não. Me sinto com muito boa disposição", disse, em entrevista à Folha, no hotel em São Paulo onde vai morar nas próximas seis semanas.

Seu empresário, que acabava de trazer para a atriz um sanduíche de pernil da tradicional lanchonete Estadão, no centro, complementa: "Ela entrou e saiu do hospital caminhando."

Bibi retorna aos palcos nesta terça-feira (4), com o mesmo espetáculo com canções de Sinatra. Serão seis semanas em São Paulo, intercaladas com apresentações no interior do Estado e em Belo Horizonte. Depois virão Natal, Porto Alegre, Vitória e nova temporada no Rio.

Em fevereiro, comemora 75 anos de carreira e emenda temporada em Nova York.

Otimista, já tem planos para o fim do ano que vem e para 2017. "Quando tudo isso acabar, quero montar um show com músicas de Caymmi. Ele anda pouco divulgado, e é meu compositor brasileiro predileto. É perfeito para um espetáculo teatral, porque tem coisas leves, boas de cantar, misturadas com frases profundamente dramáticas".

Questionada sobre que relação teve com o músico baiano, Bibi disse que não chegaram a ser amigos, mas que compartilharam uma vez um bife com batatas numa viagem ferroviária noturna entre SP e Rio. "Não sei por que não existe mais esse trem. Era um programa incrível, saíamos daqui às 23h, jantávamos a bordo, e chegávamos ao Rio de manhãzinha. Um programa adorável!"

Filha do ator Procópio Ferreira (1898-1979) e da bailarina espanhola Aída Izquierdo (1904-1985), Bibi estreou no teatro em 28 de fevereiro de 1941, com "O Inimigo das Mulheres", de Carlo Goldoni.

"Lembro muito bem. Papai estava mais nervoso que eu. Temia que eu não alcançasse o tom de representação, que eu não pudesse falar alto, o que de fato é dificílimo pedir a um ser humano qualquer. Mas eu tinha boa voz e nunca tive tendência a rouquidão."

A longevidade da carreira Bibi também atribui em grande medida aos cuidados com a voz. "Não falo muito, não tomo gelado jamais. É chato, porque gosto de cerveja, mas não tomo nunca porque cerveja boa é cerveja gelada. Então pra mim não dá."

Do álcool também mantém certa distância, mas não deixa de tomar o daiquiri, seu drinque predileto, com uma receita particular: muito pouco rum, suco de limão e açúcar, mas tudo sem gelo.

CIGANA

Morando no Flamengo, no Rio, Bibi Ferreira diz que não se importa em passar vários meses do ano em hotéis. "Sempre tive vida de cigana, estou acostumada, não tenho isso de ficar com saudades de casa", completa a atriz, que conta só cair no sono quase de manhã, pois passa as noites lendo e vendo filmes.

Na capital paulista, ela afirma que quer ver peças em cartaz –começou com uma da amiga Claudia Raia.

"O Rio é uma beleza, é intocável, eu amo. Mas prefiro a vida aqui de São Paulo. Me lembra meus anos na Inglaterra, esse frio, essa ideia de estar mais dentro dos ambientes, a vida teatral, é tudo mais acolhedor. São Paulo é mais 'home' [lar] para mim."

O espetáculo que Bibi mostra a partir desta terça é mais um da série de homenagens que faz a grandes nomes da música. Antes de Frank Sinatra, ela já subiu ao palco com o repertório da portuguesa Amália Rodrigues, a francesa Edith Piaf e outros.

"Não sou uma cantora, sou uma atriz que canta", reforça, ao descrever o show como uma performance, que amarra histórias da vida do cantor americano com as canções.

Fazer um espetáculo apenas em inglês era um desejo antigo. A atriz foi educada neste idioma, numa escola britânica no Rio. "Quando chegou Getúlio Vargas, tiveram que mudar o currículo, porque aprendíamos tudo em inglês e só tínhamos português uma vez por semana. Ele mandou mudar aquilo. Mas até hoje tem coisas que eu decorei em inglês e não esqueço mais", diz, e recita parte da tabuada nesse idioma.

Nos anos 1940, a atriz viveu em Londres, onde estudou direção na Royal Academy.

Também na infância, Bibi aprendeu espanhol com a mãe, espanhola criada em Buenos Aires. "Falo portenho, adoro tango, meu espanhol é cheio de lunfardo", acrescenta, cantando trecho de "Esta Noche me Emborracho", do argentino Enrique Santos Discépolo.

Longe do teatro desde 2007-09, quando ficou quase dois anos em cartaz com "Às Favas com os Escrúpulos", dirigida por Jô Soares, e da televisão há cerca de duas décadas, Bibi diz que "faltam bons textos no Brasil, principalmente de comédias". "Não aparece um bom papel para mim, por isso não faço. Acho o nível ruim, não por ser comercial, o que quero é fazer espetáculos comerciais mesmo. Mas não aparece coisa boa", resume.

Há alguns meses, Bibi causou polêmica ao criticar o casal gay formado pelos personagens das atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, em "Babilônia" (Globo).

Na entrevista, afirmou que não vê muita novela. "Nessa hora prefiro ir a algum espetáculo, ou sou eu mesma quem está se apresentando, portanto quase não vejo."

Por outro lado, elogiou a cena teatral de São Paulo e do Rio. "Sempre tem gente jovem chegando, há todo um novo circuito instalado. Isso é ótimo, mas eu já não conheço muita gente, não acompanho, é muita novidade. Mas acho tudo muito positivo."

BIBI FERREIRA CANTA REPERTÓRIO SINATRA
QUANDO: TER. E QUA., ÀS 21H, ATÉ 9/9
ONDE: THEATRO NET SÃO PAULO, SHOPPING VILA OLÍMPIA, R. OLIMPÍADAS, 360; TEL. (11) 4003-1212
QUANTO: DE R$ 110 A R$ 140


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